Música e dança árabes no
Brasil: Frutos da imigração
Sírio-Libanesa. |
1871 - D. Pedro II e sua
caravana em visita ao Egito. |
O Brasil fora realmente "descoberto"
pelos portugueses ? Pois bem,
teoricamente é o que nos relata os
compêndios e livros de História do
Brasil, contudo, estudos tem demonstrado
que outros povos já estiveram
por estas bandas muito antes das
conhecidas caravelas de Cabral.
A conhecida Pedra da Gávea, no Rio de
Janeiro, com inscrições datadas de muito
antes da chegada dos portugueses, sugere
que os Fenícios (local onde hoje se
situa o terrítótio do Líbano), como
grandes potências navais da antiguidade,
já estiveram no Brasil.
Contudo, é certo que o primeiro contato
migratório árabe se deu pelos chamados
míssionários católicos sírios, que
vieram junto às caravelas da colonização
portuguesa, no século XVI. A finalidade
era catequizar os índios, ensinando-os,
para tanto, a leitura e a escrita, o que
para muitos historiadores não era visto
com bons olhos pela Coroa Portuguesa.
É fato que a colonização do Brasil foi
marcada por inúmeros conflitos
sangrentos, que resultou na perda de
muitas vidas. Começava a colonização do
Brasil alargar-se, quando a passagem de
Portugal para o domínio espanhol expôs o
Brasil colônia às agressões dos
holandeses.
Primeiro, no ano de 1624, se apossaram
estes da cidade da Bahia, onde, pouco
tempo, depois tiveram de evacuar. Alguns
anos depois tomaram Recife e Olinda, no
ano de 1630 respectivamente e ocuparam
toda a capitania de Pernambuco com a
Paraíba e o Rio Grande do Norte.
Em 1646, a população de Pernambuco
sublivava-se contra os invasores, sob o
comando do herói João Fernandes Vieira,
do general André Vidal de Negreiros, do
mouro Henrique Dias, e o chefe índio
Camarão, bantendo-se na conhecida
Batalha de Tabocas. Já em 1710,
época em que Portugal se envolvera na
Guerra de sucessão da Espanha, o Brasil
fora exposto aos ataques do franceses,
onde uma pequena esquadra atacara o Rio
de Janeiro.
Feita tal introdução, adentraremos no
tema proposto no ínicio deste artigo,
qual seja, os fatos históricos que
propiciaram a entrada da Cultura Árabe
no Brasil.
**Antecedentes históricos - O califado
do ocidente e a abertura dos portos às
nações amigas:
O Califado do Ocidente |
O Califado do Ocidente - também chamado
de Califado de Córdoba - fora um governo
tipicamente islâmico que dominou boa
parte da Penísula Ibérica em
consequência da expansão do Império
Árabe. Teve início por Abderramene, que,
atravessando o norte da África, chegou à
Espanha, onde sua família tinha grande
simpatia. Ali, sob o título de "emir al
mumedim" (chefe dos crentes), fundou o
Califado do Ocidente, no ano de 759,
sendo, êste, o primeiro e histórico
desmembramento do Império Árabe.
Sob o governo dos chamados califas de
Córdova, a Espanha teve épocas de
prosperidade, onde a agricultura e o
comércio atingiram grandes
desenvolturas. Notoriamente, o reinado
de Abderramane III - o 8º Califa de
Córdova - fora o período mais brilhante
do domínio árabe na Espanha.
Acredita-se que graças ao domínio árabe
na Península Ibérica - que findou-se por
volta do ano 1031 - pequenos fragmentos
de cultura árabe misturadas à cultura
portuguesa teriam adentrado em nosso
país ainda na época da colonização,
trazidas de Portugal. Vale lembrar,
contudo, que o "descobrimento" do Brasil
ocorrera a quase 500 anos após o fim do
Califado de Córdova, ficando apenas os
elementos influenciadores desse império
tipicamente islâmico, misturados, como
dissemos anteriormente, à cultura local,
ou seja, às culturas espanhola e
portuguesa*.
*Nota: No ano de 1469, ocorrera a
chamada unificação territorial da
Espanha, com a fundação da monarquia
espanhola, tendo como origem o casamento
de Fernando, príncipe herdeiro de
Aragão, com Isabel, a infanta de
Castella).
Com a chegada mais tarde da família real
portuguesa ao Brasil - frente à ameaça
da invasão napoleônica - e a
abertura dos portos às nações amigas,
ocorreu históricamente um aumento
significativo no desenvolvimento urbano
do país. Nesse período, teatros e
bibliotecas foram criados, o que acabou
contribuindo em muito para o
desenvolvimento cultural no Brasil.
Apesar de tais antecedentes históricos,
a efetiva integração de culturas, como
veremos a seguir, se dará alguns tempo
mais tarde, com a chegada das primeiras
levas de imigrantes árabes vindos
principalmente do Líbano.
**Imigração
Sírio-Libanesa - A efetiva integração de
Culturas:
O Imperio Otomano em 1683 |
A efetiva integração da cultura
brasileira com a árabe se deu com o
início da imigração sírio-libanesa. Fato
é que no ano 1871, o imperador Dom Pedro
II (profundo admirador da Cultura
Árabe), visitou o Egito
e,posteriormente, em 1876, esteve no
Líbano, Palestina e Síria.
O Imperador do Brasil ficou extremamente
comovido com a situação enfrentada por
aquelas pessoas, em consequência do
ardil domínio do Império Turco Otomano
(que se desintegrou ao final da I Guerra
Mundial) e dos inúmeros massacres ali
ocorridos.
Ainda em Damasco, escreveu um poema e
enviou para o Visconde de Taunay,
onde lia-se: "Damasco do milênios,
berço da civilização, e quem a construiu
ajudará a construir o Brasil".
Curiosamente, a frase escrita por D.
Pedro II soou quase que como uma grande
profecia.
Apesar do convite feito pelo imperador
do Brasil, viajar para o Brasil não era
uma tarefa fácil. Para conseguirem
autorização de saída, muitos libaneses
foram obrigados a portar passaportes
turcos, emitidos pela autoridade local.
Os que não conseguiam visto, se
arriscavam viajando clandestinamente nos
porões dos navios. Assim, ao chegarem no
Brasil, sírios e libaneses eram chamados
equivocadamente de "turcos"
(Curiosamente, até mesmo nos nossos
dias, muitos árabes (sírios e libaneses)
ainda são confundidos com turcos).
Começa, assim, como dissemos no início
deste tópico, a chamada integração de
culturas, ou seja, o processo de
incorporação da cultura árabe
(tipicamente libanesa) à cultura
brasileira.
De certo, o primeiro processo dessa
integração - e o mais lembrado - se deu
na culinária. Pratos típicos do Líbano
como a Kafta, o Tabule, o Quibe, o Malfuf ( denominado no Brasil de
"Charuto") a Esfiha, a Coalhada etc.,
passaram a ser conhecidos do povo
brasileiro. Hoje, o Quibe e a Esfiha
(comidas típicas libanesas até hoje
desconhecidas em Portugal), dividem
espaço nos balcões de bares e
lanchonetes brasileiros, ao lado de
Coxinhas, Pastéis (da culinária chinesa)
e Croquetes.
Fuad Haidamus (imigrante libanes)
introduziu o típico instrumento
(Derbake / Tabla (à esquerda)) e
técnicas originais aos shows
árabes apresentados no Brasil. |
Da mesma forma a música e as danças
árabes que, adentrando em nosso país de
forma tímida e com alguns elementos
descaracterizadores - no caso da música,
reflexo da influência turca - acabaram
sendo reconhecidas, admiradas e
respeitadas, profissionalizando-se na
sua essência típica, ou seja, original,
graças ao trabalho dos "pioneiros da
música e danças árabes" ( tanto
mencionados neste sítio), que difundiram
tais artes, inicialmente em São Paulo e,
posteriomente, em todo o Brasil, num
período de imensas dificuldades*.
*Nota: As primeiras tablas ou derbakes
tradicionais do Brasil, produzidas por
Fuad Haidamus em cerâmica e pele de
cabra, apresentavam gravuras que
combinavam afrescos árabes com gravuras
indígenas marajoaras. Era a difusão e
integração sempre presentes no
idealismo do pioneiro da percussão árabe
no Brasil e de todos os demais pioneiros
da musicalidade árabe.
Também se vê inúmeras grandes
contribuições da imigração libanesa na
indústria, no comércio, na literatura e
na indústria. Na saúde, o Hospital
Sírio-Libanês, fundado por um grupo de
senhoras imigrantes do Líbano e Síria,
em 1921, tornou-se referência no
tratamento de doenças da América Latina.
Enfim, por consequência, temos
atualmente 10 milhões de árabes e
descedentes vivendo no Brasil, sendo a
maioria de origem libanesa, e os demais
de origem síria, palestina, egípcia,
marroquina, jordaniana e iraquiana.
Percussão Árabe no
Brasil: As Primeiras
Derbakes de terracota e seus
grafismos. |