O Vaso Tambor Árabe - Vitor Abud Hiar
 
                 

 

 

 

 
 
 
 

 

Considerações sobre a origem histórica da derbake.

 

Após inúmeras mensagens de amigos interessados em saber algo sobre a origem histórica do Derbake, resolvi lavrar algumas breves considerações sobre tal assunto, adotando como título " O Vaso Tambor Árabe".

A primeira pergunta que cabe nestas primeiras linhas, seria evidentemente por qual motivo não elaborei  um  trabalho semelhante antes.  Bem, primeiramente é preciso ter ciência de que se trata de um assunto de grande complexidade, devido as inúmeras controvérsias existentes sobre duas questões fundamentais: o surgimento histórico e a origem do nome. Para analisarmos tal questão, é inevitável voltarmos no tempo muito antes do período da História Antiga. Voltaremos, sim, até a Era Pré-Histórica.

Podemos afirmar que, segundo algumas evidências,  o “vaso tambor” foi inventado após o homem ter descoberto a arte da cerâmica, ou seja, no período Neolítico.

Curiosamente, a Arqueologia moderna descobriu fragmentos de cerâmica da era neolítica do que seria uma espécie de vaso tambor; evidências claras de um provável  protótipo de “derbakke”. A tese principal seria que o primeiro derbakke fora moldado no Egito antigo. Possivelmente os egípcios aperfeiçoaram o "vaso tambor" da era Neolítica, transformando-o  no derbakke que conhecemos atualmente.

Claro que existem aqueles que  preferem não arriscar, afirmando genericamente  que o derbake surgira no Oriente Médio.  Ficamos, aqui, com a primeira hipótese citada.

(Foto ao lado: "Vaso Tambor" pintado, datado do perídodo Neolítico (?) - bem parecido com a derbakke que conhecemos atualmente).

É evidente que quando falamos em percussão árabe, o povo egípcio impera em destaque primordial. A prova concreta dessa importância está estampada  em gravuras encontradas nos antigos monumentos faraônicos. Vejamos alguns exemplos:

             
   

Foto à esquerda: Mulher egípcia ao centro tocando o que seria um Bendir ( Daff para os egipcios )

Foto à direita: deusa egipcia tocando uma espécie de Riq ou Bendir

 

Os Fenícios e as rotas comerciais do Mediterrâneo - É incontestável a importância da civilização fenícia no desenvolvimento econômico e principalmente cultural da Bacia do Mediterrâneo.  Além de serem os reponsáveis pela criação do alfabeto contribuiram, graças ao seu pioneirismo naval de grande desenvoltura, para com que entrassem na vida social muitos povos até então considerados incultos. Não seria de se estranhar que, ante todo esse acontecimento de larga importância, a tabla egípcia bem como toda sua  percussão, tenha  atingido proporções internacionais.

Por outro lado, não podemos nos esquecer da importante civilização fenícia. De certo, o comércio da bacia do  Mediterrâneo foi o principal fator na expansão da percussão egípcia (árabe) para todas as outras nações dessa região. A Fenícia ,hoje o Líbano, foi a grande responsável por tal expansionismo, pois, a cidade de Tyro, antes da fundação de Alexandria, fora o grande empório do comércio do mundo. As longas explorações marítimas dos fenícios e as inúmeras colônias que se fundaram em toda costa da bacia do mediterrâneo, permitiram-lhes uma importantíssima permutação de produtos. Os navios fenícios sempre iam às costas da África e Àsia em busca de produtos. A cidade fenícia de Sydon, comercializava com o Egito, Chipre, Ásia Menor e Grécia (Século XV a.C.)

Se os egípcios aperfeiçoaram o "Vaso Tambor" da era Neolítica e quase todos os demais instrumentos da percussão árabe, os fenícios foram os principais responsáveis pela sua difusão através das rotas marítimas comerciais. Segundo os atuais relatos históricos, os fenícios assimilaram as culturas do Egito e da Mesopotâmia e as estenderam por todo o Mediterrâneo. Hoje, Egito e Líbano figuram como as grandes potências da percussão árabe no mundo.

Também não seria nada correto  esquecermos de outro dado significativo, que foi a expansão do Império Otomano que muito contribuiu em levar a cultura árabe até o mundo ocidental. Vale aqui ressaltarmos que Darbuka é a versão turca do derbake tradicional em cerâmica ( existem controvérsias sobre o assunto ).

Segundo estudiosos, tal versão teria surgido  durante o apogeu do  Império Otomano na Idade Média, período em que a música teve grande difusão e importância. Podemos afirmar convictos de que a Darbuka influenciou, e muito, a música medieval ao lado de outros instrumentos conhecidos, como, por exemplo, o Alaúde.  Na Grécia, o derbake é conhecido com a denominação de "Tumberleke"

Darabuka do período medieval.

Dentre os vários instrumentos que formavam a música da Idade Média, temos o Alaúde, ( já citado) a Rabeca, a Viela de arco, a Flauta reta, a Harpa e, no âmbito da percussão, o Tambor, os Címbalos para os dedos e a Darabuka

Além da Grécia a darbuka também influenciou as músicas de outros países europeus como a Bulgária, a Albânia e a Iugoslávia.

As primeiras Derbakes brasileiras comercializadas foram  produzidas em cerâmica de Belém do Pará. Fuad Haidamus, o pioneiro, passou a produzi-las a partir dos anos 70 respectivamente. Primeiramente eram revestidos em pele de cabrito e, posteriormente, em pele de peixe.

A segunda questão de suma importância que envolve a derbakke, conforme mencionamos no início deste estudo,  é a orígem de sua denominação. Surge aqui outra divergência. Os egipcios denominam esse instrumento como Tabla ( nome originário ) porém, com sua expansão, acabou recebendo várias denominações.

Vislumbremos a título de curiosidade as diversas denominações que esse instrumento recebe nos mais diversificados países do mundo. Vejamos, então, a tabela abaixo:

País

Denominação

Afeganistão

Darbouka

Albânia

Darabuke

Azerbaijão

Doumbek

Bulgária

Doumbek /Darabuka

Egito e países árabes

Tabla / Derbakke / Darabuka

Grécia

Tumberleke

Índia

Tumbaknari

Malásia

Gedombak

Macedônia

Tarabuka

Tajiquistão

Tablak

Turquia

Darbuka

Iugoslávia

Darbuk

Brasil

Derbakke

 

 

Acredita-se que o seu nome tenha advindo da expressão DARBA = GOLPE em árabe. Outros, porém, acreditam que tal nome tenha surgido graças ao som duplo que esse instrumento possui: DUM = Da batida grave e BEK = Da batida aguda. Cremos que a junção desses dois fatores levaram ao surgimento de tal denominação.

A derbakke e os demais instrumentos da percussão árabe permaneceram praticamente inalterados na sua forma estrutural. Mesmo a partir dos anos oitenta, com o advento das versões modernas, a versão tradicional da derbakke permanece. Assim, podemos concluir que o histórico "vaso tambor" do período Neolítico, mesmo em seu  aspecto estrutural  modesto, se perpetuou pelos séculos da humanidade e ainda se impõe, de forma enigmática, como um grande desafio a todos aqueles que desejarem dominar sua técnica.

 

 

 

 

 

 

 
     

 

 

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