Primeira Parte:
Antecedentes
históricos |
Introdução: A história da
música árabe no Brasil e
seus anti-históricos.
Durante vários anos, a
história originária da
música árabe e de seus
renomados pioneiros no
Brasil permaceu obscura e
esquecida. A aparente
ausência de registros que
demonstrassem tal
notoriedade, ensejou e ainda
enseja inúmeras
pseudocontrovérsias sobre o
tema.
A divulgação de inúmeros
falsos relatos paralelos,
denominados de
"anti-históricos" da
música árabe no Brasil,
recheados, sempre, de um
desejo monopolista, passou a
atentar diretamente contra a
Memória da Cultura Musical
Árabe em nosso País,
distorcendo completamente a
correta narrativa dos fatos
reais, apagando importantes
nomes e, por consequência,
induzindo muitos a um
equívoco conhecimento.
Criados pelo oportunismo ou,
talvez, pelo simples
desconhecimento e valendo-se
tristemente,ainda, do aval
de muitos frente a simples
amizade, tais
anti-históricos carecem
plenamente de dados que
estejam em consonância com a
verossimilidade e,
principalmente, de elementos
substanciais comprobatórios
de autenticidade e
credibilidade.
Através deste modesto e
singelo tributo "in memoriam"
a Fuad Calil Haidamus,
o Pai do ritmo árabe no
Brasil, que, com
muita honra, contou com a
contribuição da notável
Bailarina e Mestra
Shahrazad Shahid Sharkey,
Dama e Pioneira da Dança do
Ventre no Brasil,
tentaremos resgatar de forma
inédita e autência a
verdadeira História da
Música Árabe neste País,
proporcionando a todos uma
breve viagem aos
tempos da implantação e
difusão inicial da arte
musical árabe profissional
em território brasileiro.
O Período Pré-Pioneiro da
Música Árabe Profissional no
Brasil ( Nagib Mubarak,
Nagib Hankach, Sheik Nagib
Zacharia e outros ).
Antes de adentramos aos
fatos históricos
relacionados à vida e obra
de Fuad Haidamus, o pioneiro
da percussão árabe no
Brasil, falaremos rapidamente de um período -
também não menos importante
- a que denominamos "Período
Pré-Pioneiro. Este
período pode ser conceituado
como o lapso de tempo que
antecedeu os trabalhos de
implantação e difusão da
legítima música árabe
profissional realizada pelos
nossos genuinos pioneiros
neste país.
Sabemos que a musica árabe
chegou até nós graças à
imigração árabe (maciçamente
de libaneses), que aqui
vieram em busca de novas
oportunidades. Tudo teve
início quando D.Pedro II, ao
visitar Damasco e Beirute,
convidou a população para
imigrar para o Brasil.
Nesta época, a música árabe
no Brasil - se é que podemos
assim denominar - ainda
estaria numa fase totalmente
experiemental. O estilo
percussivo "Raks" não
existia, sendo desenvolvido
mais tarde por Fuad Haidamus.
Como bem nos nos ensinava o
pioneiro da percussão árabe
no Brasil, muitos músicos
árabes (e de origem turca)
aqui estiveram (amadores e,
também, profissionais), por
vezes a convite feito pela
própria Colônia Árabe de São
Paulo, ainda, claro, em
histórica formação. Esses
músicos, profissionais e
amadores, aqui permaneciam
por um tempo, se
apresentavam geralmente nos
clubes árabes e teatros e,
posteriormente, retornavam a
seus países de origem. Era
um fluxo de difícil
precisão. Nessa época
destaca-se o Clube Homs,
fundado em 1920 e destinado
à realização de alguns
eventos musicais
exclusivamente voltados à
comunidade árabe paulistana.
Motivos para aqui estarem
não faltavam. O fator mais
importante, acreditamos, era
buscar distancianciamento
provisório ou temporário da
crise social e política
enfrentada por Damasco e
demais áreas próximas - que,
também, incluía o Libano.
Essa crise, marcada pelos
conflitos armados ocorridos
na região do Monte Líbano,
resultou em muitas perdas
humanas.
Assim, nesse emaranhado de
idas e vindas, que dirimiu
significativamente no final
da década dos anos 50 -
quando Damasco e região
entraríam num tempo de paz
-, cabe a nós registrarmos a
existêcia neste país do
maestro e alaudista de
origem turca Alexander
Sunatti, cujo trabalho,
possivelmente, precedeu até
mesmo aos dos nossos antigos
alaudistas árabes.
Curiosamente, Alexander
Sunatti, nome importante da
música turca brasileira,
fora professor do alaudista
libanes Jorge Aidamus,
irmão mais novo de Fuad
Haidamus.
Consta ainda que Sunatti
teria se unido a outros
músicos (árabes e/ou não
árabes da época) e, ao lado
dessas pessoas, fundado
um conjunto amador
turco-árabe de músicas
orientais (com
características nítidas de
um ensemble turco
clássico). Haidamus,
contudo, dizia que nessa
época havia muita
descaracterização e, por
essa razão, como não
havia interesse por parte
dessas pessoas em divulgar a
música árabe ao povo
brasleiro (até mesmo pelas
inúmeras dificuldades que
tal feito poderia
proporcionar), tal arte não
conseguia alcançar a devida
profissionalização e
reconhecimento.
Dentre os feitos realizados
nesse período, podemos
destacar aqueles do no ano
de 1930, onde Nagib
Mubarak, precedendo
inclusive o pioneirismo de
Romeu Féres, o
primeiro intérprete
profissional de músicas
árabes do Brasil, a
título de registro,
gravou pela Odeon dois
cantos sírios típicos ( "Yalia"
e "Yama Nuchuf" ) em
disco de 78 rpm. No mesmo
ano, Sheik Nagib Zacharia
grava pela Arte-Fone,
também a título de registro,
o solo de alaúde "Taksim
Baiat".
Nota: Até
mesmo Fuad Haidamus,
a título de registro, na
década dos anos 40, gravou
disco de 78 rpm, contendo
dois cantos típicos árabes
por ele interpretados .
Já em
1935, Fuad Haidamus inicia
seus estudos de percussão
libanesa inspirando-se no
percussionista libanês Jamil
Flewar - que também esteve
no Brasil - e, pouco tempo
depois, como veremos logo a
seguir, neste país, se
tornaria o primeiro e
histórico percussionista a
formar ao lado do alaudista
Wadih Cury, o primeiro
conjunto musical tipicamente
árabe e profissional,
abrindo caminhos para essa
nova arte, somando-se,
evidentemente, os trabalhos
de Romeu Féres.
Inicia-se, assim, de maneira
progressiva, a
implantação oficial e
difusão do canto, música e
percussão árabes em
terrítório brasileiro.
Segunda Parte: O
Pioneirismo de Fuad
Haidamus |
Fuad Haidamus ( *1920
(Líbano) - †2002 (Brasil) )
- Pioneiro da percussão
árabe no Brasil.
A
história inicial da
Percussão Árabe no Brasil
muito se confunde com a
história
do percussionista e Mestre
Fuad
Calil Haidamus.
Nascido na República do
Líbano no ano de 1920,
iniciou seus estudos de
percussão libanesa aos 15
anos de idade, inspirando-se
em seu Mestre e grande
percussionista libanês,
Jamil Flewar.
Em pouco tempo, se tornou o
grande mito da percussão
árabe no Brasil onde, seu
trabalho pioneiro em
difundir tão rica
arte, fora uma verdadeira
mola propulsora no incentivo
ao aparecimento de mais e
mais percussionistas do
mesmo gênero.
Como
percussionista oficial de
Madeleine Iskandarian,
conhecida artisticamente
como a notável
SHAHRAZAD
- Mestra e pioneira no
ensino da Dança
do Ventre no Brasil - viajou
por inúmeras cidades
brasileiras levando a todos
parte dessa tão rica e nobre
Cultura Árabe.
Entre as décadas de 40, 50,
60, 70 e 80, difundiu a
percussão libanesa em todos
os recantos do Brasil, como:
Cuiabá/MT, Manaus/ AM, Belo
Horizonte/MG, São José do
Rio Preto/SP, Monte Alto/SP,
Belém/PA, Campinas/SP,
Goiânia/GO e em São
Paulo/SP, onde se apresentou
na tenda árabe "Bier Maza",
ao lado de ilustríssimos
músicos.
Produziu as primeiras Tablas
Árabes no Brasil, fornecendo
para as mais conceituadas
lojas de instrumentos
musicais deste país. Eram
produzidas em corpo de
cerâmica marajoara (uma das
melhores cerâmicas do mundo)
e pele de cabrito advinda da
região nordeste do Brasil.
Durante os anos que se
apresentou, fora muito
requisitado para shows,
programas de auditório,
novelas etc...
Enfêrmo, Haidamus faleceu na
cidade de Santos, Estado de
São Paulo, aos 82 anos de
idade, no dia 24 de Janeiro
de 2002.
Novelas, Shows e Programas
de auditório.
1986 - Fuad
Haidamus entre
os amigos
músicos Emílio
Bonduki e Said
Azar (Imagem de
vídeo). |
Na década de 70, Fuad
Haidamus participou de
inúmeros programas de
auditório ao lado de
orquestras renomadas, como
dos maestros Sílvio Mazucca
e Osmar Millani.
Ao contrário do que se
acredita, a novela global "O
Clone" não fora a pioneira
na difusão da dança e da
música árabes no Brasil.
Fora , sim, a novela em que
tal difusão fora feita em
maior proporcionalidade.
Ocorre que em 1977, Fuad
Haidamus fora convidado a
participar musicalmente de
um dos capítulos da novela
global "O Astro" de Janete
Clair, que fora ao ar entre
os anos de 1977 a 1978,
apresentando-se juntamente
com seu irmão Jorge Aidamus,
em uma das festas
patrocinadas pelo
inesquecível personagem
Salomão Hayallah,
interpretado pelo ator
Dionísio Azevedo.
Shahrazad também participara
pioneiramente com sua dança
magistral. Eles tocaram na
abertura de um dos capítulos
da novela. Fuad Haidamus e
Jorge Aidamus foram,
portanto, os primeiros
músicos árabes a se
apresentarem em uma novela
de televisão.
No final de 1979 e início de
1980, havia um programa
árabe de televisão
denominado"Programa
Árabe na TV", (curiosamente
tinha como tema de abertura
"A dança da cobra") que era
veiculado pela TV Gazeta.
Tal programa era exibido às
14:00 horas e tinha duração
de apenas 30 minutos. Fuad
Haidamus por muitas vezes
ali se apresentou com seu
conjunto.
1986 - Fuad
Haidamus toca ao
lado do amigo
Elias Almaza
(Imagem de
vídeo). |
Assim, Haidamus ( já então
professor magistral de Vitor
Abud Hiar ) foi também o
primeiro Derbakkista a se
apresentar em um programa de
televisão no Brasil.
Curiosamente, como lembra
Vitor Abud Hiar, Fuad
Haidamus era destro mas
tocava a Derbakke na forma
canhota; isso evidentemente
não o impediu de se tornar o
maior derbakkista do Brasil.
A facilidade com que tocava
Derbakke nesta posição era
algo surpreendente.
Consta que em uma de suas
apresentações no interior do
Estado de São Paulo, levou o
público ao delírio em um de
seus solos de percussão.
Terceira Parte:
O Conjunto Haidamus, Shahrazad e
o
Conjunto Wadih
Cury |
Fuad Haidamus e Jorge
Aidamus:
O Histórico "Conjunto Haidamus".
As primeiras apresentações
profissionais realizadas por
Fuad Haidamus fora ao lado
de seu irmão, o alaudista
Jorge Aidamus (escrito sem
"h" devido a mero erro de
registro). O "Conjunto
Haidamus", conforme é
possível observar através da
análise dos
registros históricos,
apresentou-se
profissionalmente no Brasil
por praticamente 40 anos.
No ano de 1956, já bastante
conhecidos, se apresentaram
no programa de Chico Shabou
veiculado pelas ondas da
Rádio Clube de Santo André,
o que seria o primeiro
programa radiofônico
dedicado à cultura árabe do
Brasil.
Curiosamente, no ano de
1975, ainda faziam história nos
mais diversos restaurantes
árabes de São Paulo, como o
"Casbah", ao lado
da notável bailarina Mona (vide
destaque ao lado do jornal
"O Estado de S. Paulo" em
edição de 15-08-1975) . Em 1977,
participaram musicalmente da
novela global "O
Astro"; ainda na Rede
Gazeta de televisão, entre
os respectivos
anos de 1979 e 1980,
apresentaram-se no já
mencionado "Programa Árabe
na TV".
Assim, após longo período, por motivos
particulares, os irmãos Haidamus
optaram pela separação em definitivo e, a
partir dos anos 80, não mais
se apresentaram juntos. Esse
tema é tratado em detalhe no artigo
"Fuad
Haidamus, Jorge Aidamus e a
Música Árabe Contemporânea
no Brasil".
Bier Maza: A Dança de
Shahrazad Sharkey e a Percussão de
Fuad Haidamus.
No ano de 1979, Shahrazad
Sharkey passou a se
apresentar na tenda árabe "Bier
Maza", ( famoso restaurante
onde se encontrava toda a
colônia árabe da cidade de
São Paulo ) cantando e
dançando o "Raks el Sharki".As
noites na "Bier Maza" eram
inesquecíveis, e fora
inspiração no surgimento de
inúmeros restaurantes árabes
do mesmo gênero.
Havia nos anos 70, dois
restaurantes em São Paulo
que apresentavam shows de
dança do ventre e música
árabe ao vivo, eram eles: a
tenda árabe "Bier Maza" e o
restaurante Porta Aberta.
Eram freqüentados por toda a
Colônia Árabe de São Paulo.
Esses restaurantes tiveram
uma grande importância na
difusão da música e da dança
árabe, principalmente a
partir dos anos 80. Nesta
respectiva época, muitos
músicos e cantores novatos
que começaram a surgir, ali
passaram a se apresentar.
O intuito principal era
tornarem-se conhecidos e,
posteriormente, serem
aprovados pela exigente
Colônia; fato semelhante
também ocorreu em relação a
Dança do Ventre.
Na "Bier Maza", Shahrazad (
que sempre se apresentava
com roupas suntuosas )
contava em suas
apresentações com ilustres
pioneiros da musicalidade
árabe no Brasil. O
conjuto de Wadih Cury (
Wadih Koury Orquestra Árabe
) , - conjunto este
pioneiro da musica árabe no
Brasil - em sua fase
inicial, era composto por
Alaúde, Derbakke e Daff.
Posteriormente, no final dos
anos 70 e começo da década
de 80, introduziu-se o
Violino e o Mejwiz às
apresentações. Junto à seu
instrumento, foi o primeiro
músico a apresentar neste
país uma composição musical
árabe ao vivo.
Dentre os músicos que
formavam o conjunto de Wadih
Cury, destacava-se
brilhantemente "o mestre
dos tambores árabes do
Brasil", Fuad Haidamus,
que acompanhou com seu
conjunto Shahrazad em sua
turnê pelos Estados
Brasileiros .
Como assim elucida Vitor
Abud Hiar, o Alaúde, o
Derbakke e o Daff, foram os
instrumentos que "semearam"
a música árabe neste país.
Sempre ao lado de Wadih Cury
em suas apresentações pelo
Brasil, Fuad Haidamus foi o
primeiro percussionista
árabe a apresentar um solo
de Derbakke "ao vivo" para
Dança do Ventre neste país.
Shahrazad,além de ser
pioneira da Dança do Ventre
do Brasil, também foi a
primeira cantora árabe
profissional.Fuad Haidamus também era
alaudista e violinista, mas,
evidentemente, sua
primordial especialidade
era a percussão.
Obs:
Abaixo segue a homenagem
especial de Shahrazad
Sharkey, realizada em 2004,
a Fuad Haidamus. Shahrazad
faleceu em 2014, dez anos
após a realização deste
tributo.
|
|
|
Depoimento
especial
de
Shahrazad
-
Pioneira
e
Dama
da
Dança
do
Ventre
no
Brasil
- em
homenagem
ao
músico
Fuad
Haidamus. |
|
|
(por
Thânia
Allan
Ribeiro) |
|
|
"Shahrazad
se
lembra
com
muito
carinho
do
percussionista,
Haidamus,
o
pioneiro
da
percussão
árabe.
Era
sempre
um
prazer
encontrá-lo
nos
compromissos
que
tinham
juntos.
Haidamus,
que
confeccionava
derbakes,
presenteou
Shahrazad
com
um,
o
qual
ela
ainda
tem
enfeitando
sua
sala
de
estar. Haidamus
ensinou
Richard,
filho
da
Shahrazad,
a
tocar
derbake.
Fuad
Haidamus
começou
tocando
daff
e
depois
passou
para
o
derbake.
Ele
gostava
de
cantar
também,
porém
não
profissionalmente.
Nas
festas,
ele
sempre
aproveitava
pra
cantar
um
pouquinho,
enquanto
acompanhava
seus
companheiros,
o
cantor
Samir
e
seu
irmão,
o
alaudista
Jorge
Aidamus.
Shahrazad
lembra
dele
com
muito
carinho
e
acha
muito
merecida
esta
homenagem
ao
pioneiro
da
percussão
árabe
no
Brasil."
|
Breve depoimento de Shahrazad a Thânia Allan Ribeiro, em Tributo ao Percussionista Fuad Haidamus - Mestre e Pioneiro da Percussão Árabe no Brasil. |
|
|
Agradecimentos especiais: À Sra. Shahrazad Sharkey, Mestra e Pioneira da Dança do Ventre no Brasil, por seu depoimento em homenagem ao Músico Fuad Haidamus, e a Thânia Allan Ribeiro e Silvia Tasca pelo auxílio prestado neste trabalho cultural. |
|
|
|
A "Derbakke Solo" de Fuad
Haidamus - O Pai do estilo
percussivo Raks no Brasil
Tanios Baaklini, Fuad Haidamus e Kico
- Clube Sírio Homs no ano de 1984 (Colaboração de Henrique Tabchoury) |
Como já fora aludido
anteriormente, Fuad Haidamus
fora o primeiro
percussionista árabe a tocar
um "derbakke solo"
(expressão primeiramente
usada por ele) no Brasil.
Desenvolveu um estilo
fabuloso e inconfundível
especialmente criado para as
apresentações de Shahrazad.
Introduzia aos solos o
"estalo", acompanhado das
batias normais "Ká", "Tá" e
"Dum".
Fuad Haidamus apresentava o
"estalo" nas finalizações de
cada frase, fornecendo
ótimos subsídios à bailarina
na sua apresentação
Tinha como característica
ainda mais marcante a
firmeza com que executava os
ritmos, figurando até hoje
como o melhor ritmista árabe
para Dança do Ventre que o
Brasil já teve.
O conjunto de Wadih Cury (Wadih
Cury Orquestra Árabe) -
Primeiro conjunto árabe
profissional do Brasil.
O conjunto de Wadih Cury,
além de pioneiro da música
árabe no Brasil, fora o
melhor conjunto árabe deste
país durante os anos em que
se apresentou.
Era um conjunto de essência
clássica e formal. Seus
integrantes sempre
impecavelmente trajados (
ternos ou smokings ),
seguiam a mesma linha das
orquestras árabes
tradicionais da época.
Fizeram shows por todos os
recantos do Brasil. Era o
conjunto que sempre
acompanhava Shahrazad em
suas apresentações.
Já na década de 70, viajavam
de avião, gravavam vídeos e
faziam shows por vários
Estados brasileiros, como,
por exemplo, Goiás, Mato
Grosso, Pará e São Paulo.
Era um conjunto de grande
dinamismo e carisma.
Dedicatória
histórica em
caracteres
árabes de Wadih
Cury,
considerado um
dos maiores
alaudistas
técnicos do
Brasil, feita em
homenagem ao seu
Amigo e
Companheiro Fuad
Haidamus no
verso de seu Lp
Duplo
"Canções de
Folclore Árabe",
produzido pela
Continental. |
Segundo dados
históricos, a difusão da
música árabe no Brasil teve
3 grandes ícones: Wadih Cury
( pioneiro na formação do
primeiro conjunto
tipicamente árabe do Brasil
), Fuad Haidamus ( pioneiro
da percussão)
e Nabil Nagi ( mestre de
alaúde e violinista árabe ).
Shahrazad também foi a
primeira cantora árabe
profissional do Brasil.
Recordemos aqui do eminente
cantor e regente Romeu
Féres, que também era
alaudista. Amigo de Fuad Haidamus,
fora o primeiro cantor árabe
profissional deste País.
Féres foi também pioneiro no
lançamento dos primeiros
Lp's árabes em homenagem à
comunidade árabe no Brasil:
Jóias Árabes e Tardes
Orientais ( Para saber
mais, leia o artigo
"O
Pioneirismo da discografia
árabe no Brasil e seus
músicos expoentes".
Curiosidade:
"Wadih Cury e Romeu Féres
foram os primeiros
alaudistas conhecidos da
música árabe profissional no
Brasil, porém, acredita-se
que o mais remoto alaudista
seja
Nahat que,
também, fora o primeiro
fabricante do instrumento no
Brasil. Nahat fora o
professor de Romeu Féres".
A partir desses músicos
pioneiros (Cury, Féres,
Haidamus e Nagi), outros
começaram a surgir, porém,
somente na década dos anos
80.
Haidamus também se
apresentou por várias vezes
ao lado dos alaudistas
Emílio Bunduki, (que
também tocava percussão),
Willian Bunduki e
Said Azar, importantes
precursores na difusão
inicial da música árabe no
Brasil na década dos anos
80.
Emílio Bunduki, como
dissemos, também era
percussionista e, quando não
estava tocando alaúde,
auxiliava Fuad Haidamus no
Daff (Pandeiro ou Tamborim
Árabe).
Willian Bunduki e seu
conjunto, como assim era
conhecido na década dos anos
70, era formado por: William
Bunduki (Alaúde), Fuad
Haidamus (Derbakke) e Kico
ou Alex Bunduki (Percussão
base).
Durante a década dos anos
oitenta, Haidamus fez dupla
com o alaudista Nabil Nagi.
Fora uma das duplas mais
duradouras e a mais famosa
até então. Juntos, Haidamus
e Nagi fizeram shows por
muitos lugares no Brasil.
Ely Almaza, outro alaudista
da década dos 80, também se
apresentou por várias vezes
ao lado de Haidamus.
O Alaudista
Sírio e Grande
Amigo Said Azar
- responsável
pelas homenagens
finais
realizadas a
Fuad Haidamus. |
Pode-se dizer que Nagi fora
o alaudista que mais se
destacou durante a década
dos anos 80. Jovem e
talentoso, é considerado o
grande responsável no
incentivo ao surgimento de
novos músicos no Brasil.
Lembramos que em 1984, Fuad
Haidamus, já com idade um
pouco avançada, deixava ser
substituído por
percussionistas mais jovens,
principalmente nos solos que
exigiam maior agilidade.
Dentre outros importantes
nomes da música e da dança
árabes que trabalharam ao
lado de Haidamus, podemos
citar o alaudista, cantor e
compositor Said Azar
- importante precursor na
difusão da música árabe no
Brasil - e o notável
Bailarino libanês Atef
Issa do Tradicional
Grupo Folclórico Cedro do
Líbano (históricamente o
primeiro grupo de danças
folclóricas libanesas do
Brasil). Todos
grandes amigos e
companheiros de Haidamus em
muitas apresentações nos
mais diversificados Estados
Brasileiros.
Foi o próprio Fuad Haidamus
quem incentivou seu irmão
mais novo, o alaudista
Jorge Aidamus, professor
de muitos outros músicos
contemporâneos, a ingressar
no mundo da arte musical.
Foram várias as bailarinas
que trabalharam com Jorge
Aidamus no restaurante Bier
Maza - já na década de 80 -
,sendo todas consideradas
auxiliadoras da pioneira
Shahrazad na difusão da
Dança do Ventre no Brasil.
Haidamus também foi o
primeiro músico a cantar em
uma emissora de rádio no
Brasil. Na década dos anos
50,ainda
muito jovem, cantou e tocou
na antiga e famosa Rádio
Clube de Santo André - SP,
no primeiro programa árabe
radiofônico da história do
Brasil, que veremos mais
adiante.
O conjunto de Fuad Haidamus,
nos tempos primórdios, era
compostobasicamente por: um
cantor, alaúde (geralmente o
próprio alaudista cantava),
derbakke (sempre Fuad
Haidamus ), daff, violino e
Mejwiz (em poucas
ocasiões). Também era sempre
acompanhado pelas primeiras
bailarinas de dança do
ventre no Brasil.
A primeira geração de
bailarinas árabes do Brasil,
segundo consta nos registros
históricos, surgiu somente
na década dos anos 70, e era
formada por: Shahrazad
Sharkey (pioneira, que
trouxe a arte técnica para o
Brasil ), Mileidy, Rita,
Selma, Samira, Zuleika
Pinho, Aziza, Sandra, Magda,
Vera e Zeina, todas
importantes precursoras na
difusão da Dança do Ventre
neste país.
Era, portanto, o conjunto de
elite, formado apenas por
músicos genuinamente
profissionais. Ressaltamos
que havia
entretanto, muitos músicos e
cantores iniciantes -
curiosos - que espelhando-se
em nomes profissionais como
Haidamus, Bunduki, Cury e
Nagi, passaram também a se
apresentar nacidade
de São Paulo, isso, porém,
na década dos anos 80.
Cumpre aqui ressaltar que,
na época, o nome do conjunto
de músicos costumava seguir
sempre o nome do alaudista
integrante. Por exemplo:
Conjunto de Nabeel Naji (
alaudista ) e Conjunto de
Wadi Cury ( alaudista ). Era
uma tradição, sem nenhuma
conotação hierárquica.
Foto ao lado:
Dedicatória do músico
alaudista e percussionista
Emílio Bunduki para seu
amigo Fuad Haidamus feita em
verso de foto.
Quarta Parte:
Os instrumentos e
objetos |
Instrumentos
e objetos históricos.
Como na época as viagens
eram constantes, a
necessidade de maior
proteção aos
instrumentos era
imprescindível ( não
havia, naquele tempo, derbakkes
confeccionados em alumínio
). Assim, Fuad Haidamus idealizou o
primeiro estojo para
derbakke em formato de caixa.
Constituindo-se
na melhor forma de proteção
para o instrumento, chega a
ser superior aos atuais
estojos e capas
comercializadas no Brasil e
no mundo árabe atualmente.
Com esta caixa ( foto abaixo
à direta ), Fuad Haidamus e
seu conjunto viajaram pelo
Brasil. Trata-se de uma peça
histórica da percussão árabe
no Brasil.
Derbake de Fuad
Haidamus em
terracota,
confeccionada em
1981 para Vitor
Abud Hiar. |
Fuad Haidamus confeccionou
dois estojos para Derbakke,
sendo que o primeiro deles,
após ter utilizado
amplamente em seus inúmeros
shows, presenteou Vitor Abud
Hiar em 1979.
Apenas a título de
curiosidade, Fuad Haidamus
possuia, dentre sua coleção
particular de instrumentos
de percussão libanesa, uma
Derbakke em fibra de vidro,
material totamente
diversificado das que são
fabricadas atualmente (
barro, alumínio e madeira ).
Confeccionou também as
primeiras Derbakkes em
cerâmica e pele de cabra, e,
posteriormente, em pele de
peixe. Os instrumentos eram
feitos de cerâmica de Belém
do Pará. Seus derbakkes
estiveram nas melhores casas
de instrumentos musicais do
Brasil.
No início dos anos 90, Fuad
Haidamus ainda confeccionou
algumas derbakkes, porém, em
1996, já com o encorpamento
das importações comerciais e
do surgimento das derbakkes
em alumínio fundido (versão
moderna ou contemporânea ),
terminara definitivamente
com essa atividade.
Haidamus, considerou a
versão moderna da derbakke
"um instrumento de
excepcional sonoridade".
Fuad Haidamus também
idealizou o suporte para
lâmpada, que possibilitava
ao percussionista manter a
pele da derbakke sempre
esticada e aquecida durante
as apresentações. Vitor Abud
Hiar, sob orientação do
próprio Fuad Haidamus,
confeccionou uma réplica de
seu suporte, que até hoje
utiliza na afinação de seus
instrumentos.
Curiosidade: A expressão
"Derbakista", difundida
neste site e bastante usada
nos dias atuais, fora cunhada e utilizada por Fuad Haidamus em suas
explicações a Vitor Abud
Hiar.
Foto ao lado:
Derbakke em cerâmica
confeccionada por Fuad
Haidamus em 1983. Possui
membrana em pele de cabrito
originária da região
nordeste do Brasil. Seu
corpo é feito em cerâmica
marajoara (PA). Instrumentos
semelhantes a este foram
postos à venda no Brasil
ainda nos anos 70.
Fuad Haidamus, além de
comercializar seus
instrumentos para
particulares da Comunidade
Árabe fora dela, forneceu,
também, alguns de seus
instrumentos para algumas
importantes lojas de
instrumentos musicais de São
Paulo.
Se hoje a Derbakke ainda é
um instrumento muito pouco
conhecido, na época dos anos
70 a situação era ainda mais
acentuada. Este fora o
primeiro primeiro modelo de
Derbakke a ser tocado em
shows tanto em São Paulo (Bier
Maza e Porta Aberta ) como
em todo o Brasil.
Devido a enorme fragilidade
dos Derbakkes em corpo de
cerâmica e as dificuldades
na afinação, desenvolveram
um modelo contemporâneo em
corpo de alumínio e pele
sintética, sendo a versão
mais preferida para shows.
Foto ao lado:
Antigo estojo
profissional para
Derbake, idealizado e
confeccionado por Fuad
Haidamus em 1969 -70
(visão lateral).
É feito em madeira
especial com
revestimento interno de
espuma de
aproximadamente 3 cm de
expessura.O revestimento
externo é feito em couro
na cor vermelho vinho.
Durante as viagens, o
Derbakke podia ser
facilmente transportado
sem o perigo de sofrer
impactos e se quebrar.
Internamente é dotado de
um sistema de engates de
madeira e espuma,
evitando que o
instrumento se
movimente.
Hoje, com o surgimento
dos Derbakkes em corpo
de alumínio fundido
especial para shows, a
necessidade de se ter um
estojo de grande
proteção tornou-se
fator sem muita
importância.
Vitor Abud Hiar explica
que mesmo as primeiras
Derbakkes serem
incrivelmente
resistentes (apesar de
feitas em ceramica), a
necessidade de um estojo
dessa natureza era algo
realmente indispensável.
Todos os estojos para Derbakke de Fuad
Haidamus foram para uso
pessoal.
O
estojo no detalhe fora
confeccionado por Fuad
Haidamus em 1970, sendo
o primeiro de todos
eles. No ano de 1979,
Fuad Haidamus presenteou
Vitor Abud Hiar com seu
primeiro estojo como
incentivo aos seus
estudos na percussão.
Tal peça encontra-se até
hoje na sua qualidade
original.
Foto ao lado:
Fios originais usados
por Fuad Haidamus na
confeccção de seus
primeiros instrumentos
musicais. Esses fios,
feitos em seda pura de
alta resistência, eram
devidamente
transpassados nas bordas
da membrana de couro que
era devidamente cortada
e furada. Havia também
na produção de um
Derbakke a técnica da
amarração.
Fios originais usados
por Fuad Haidamus na
confeccção de seus
primeiros instrumentos
musicais. Esses fios,
feitos em seda pura de
alta resistência, eram
devidamente
transpassados nas bordas
da membrana de couro que
era devidamente cortada
e furada. Havia também
na produção de um
Derbakke a técnica da
amarração.
Foto ao lado:
Suporte original para lâmpada de
afinação de Fuad
Haidamus. Sabemos que o célebre
percussionista libanês
Jamil Flewar, fora o
primeiro percussionista
a utilizar uma lâmpada
para afinar seu Derbakke.
Fuad Haidamus, por sua
vez, desenvolveu um
suporte especial para
lâmpada de aquecimento,
que tinha como objetivo
manter a pele do
instrumento sempre
afinada durante as
apresentações. A
genialidade do suporte
desenvolvido por
Haidamus era tão grande,
que mesmo estando no
inteiror do instrumento
não abafava a saída do
som.
As Derbakkes em cerâmica
não possuem tarraxas
para afinação; o
processo é feito por
meio do emprego de calor
que, tirando a umidade
do couro, faz com que
ele fique mais rijo. Na
percussão árabe há duas
formas de afinação: Por
esticamento e por
ressecamento.
O calor da lâmpada
colocada no interior do
instrumento faz com que
a umidade da membrana
evapore e, dessa forma,
torne o couro mais
firme.
O primeiro percussionista a
usar esse tipo de afinação
no mundo, como dissemos
anteriormente, fora Jamil
Flewar (professor de
Haidamus), Antes disso,
usava-se de praxe dois
instrumentos durante os
shows, ou seja, enquanto um
era aquecido por meio
objetos térmicos, tocava-se
o outro. O uso da lâmpada,
por sua vez, eliminou a
necessidade de se ter o jogo
dos dois instrumentos, pois
o instrumento podia ser
afinado no palco, mesmo em
condições de uso.
Fuad Haidamus foi o primeiro
músico percussionista a
implantar e usar no Brasil
esse tipo de afinação nos
shows. O segundo a utilizar
esse método fora Vitor Abud
Hiar, que desenvolveu seu
suporte sob orientação do
próprio Fuad Haidamus, com
quatro hastes presos à
base de um soquete de
lâmpada. O suporte à direita
fora confeccionado entre os
anos de 1978 e 1979.
Curiosidade: Após
nossa divulgação, o suporte
desenvolvido por Haidamus
passou a ser muito copiado
por vários músicos sem os devidos créditos,
porém, por desconhecerem o
correto material usado e a
forma como a peça se
encaixava dentro do
instrumento, tais protótipos
acabaram se distanciando
significativamente daquele
criado e usado por Haidamus.
Foto ao lado:
Última Derbake, modelo
Alexandria, que pertenceu ao
músico Fuad Haidamus. Produzida em
alumínio fundido e
revestimento de couro
sintético, possui diâmetro
regular de 8.6 polegadas ou
22 centímetros.
Como já fora aludido
anteriormente, no início dos anos 90, Fuad
Haidamus ainda confeccionou
algumas derbakkes em pele de
cabrito e cerâmica, porém, em
1996, já com o encorpamento
das importações comerciais e
do surgimento das derbakkes
em alumínio fundido (versão
moderna ou contemporânea),
Haidamus terminara definitivamente
com essa atividade.
Além de ter sido o pioneiro
na confecção de derbakkes
tradicionais no Brasil, Fuad
Haidamus, graças a sua
facilidade em lidar e
manusear couros e peles de
cabra, também fora o
primeiro músico a tocar e
também a confeccionar o
tradicional instrumento
Rababah.
De todos os instrumentos
árabes melódicos, a Rababah
é certamente o que mais se
aproxima estruturalmente da
confecção de um tambor
típico (pele e madeira).
Trata-se de um instrumento
de médio ou pequeno porte,
muito tocado pelos beduínos
( os tradicionais habitantes
do deserto ). É constituído
por cabo em madeira e sua
caixa é revestida por duas
membranas de pele de cabra
(as mesmas usadas para
revestimento de tambores)
bem esticadas e presas nas
bordas por uma sequência de
pequenas tachinhas
brilhantes. É tocado através
de um arco também em madeira
e corda esticada. Fuad
Haidamus confeccionou esses
instrumentos ainda na década
de 60.
As membranas em pele fina de
cabra vibram ao atrito da
corda do arco com a corda do
instrumento, proporcionando,
assim, seu característico
som. Tradicionalmente, esse
instrumento possui apenas
duas cordas, mas existem
variantes de até quatro
cordas paralelas.Fuad
Haidamus não comercializou
no Brasil a Rababah, pois a
procura para esse
instrumento era praticamente
nula.
Parte Final: Radio
Clube e início na difusão da
música árabe
profissional
|
Fuad Haidamus e o Início
Histórico da Música Árabe
Profissional no Brasil.
Na primeira parte deste
Tributo em homenagem ao
Pioneiro e Mestre da
percussão árabe no Brasil,
fizemos uma breve introdução
sobre a vida musical de Fuad
Haidamus e seus feitos
históricos. Já na segunda
parte, retratamos de forma
mais detalhada seus
trabalhos ao lado de
Shahrazad Shahid Sharkey -
Pioneira da Dança do Ventre
no Brasil e demais músicos
pioneiros na formação do
primeiro conjunto musical
árabe típico e profissional
do Brasil. Mostramos seus
instrumentos e objetos
tradicionais, detalhando-os
minuciosamente.
É evidente que mesmo após
todo este trabalho de
pesquisa realizado, três
questões ficaram sem uma
resposta: quem, onde e
quando se iniciou a difusão
da música árabe no Brasil ?
É evidente que a elaboração
de uma terceira e memorável
parte se fez mais que
necessário. Agora, munidos
de elementos comprobatórios,
falaremos do início de tudo,
ou seja, trataremos
especificamente nesta última
parte, sobre Fuad Haidamus e
o início histórico da
difusão da música árabe no
Brasil.
A Rádio Clube de Santo André
e o primeiro programa árabe
radiofônico do Brasil.
A
década dos anos 50, sem
dúvida alguma, deixaria sua
marca para sempre na
história da radiocomunicação
brasileira. Os programas
radiofônicos e os grandes
cinemas, acabaram se
tornando as principais
formas de entretenimento do
público juvenil dessa época.
Nesse período, surgem na
região do grande ABC
paulista duas importantes
emissoras de rádio. São
elas: A Rádio
Clube de Santo André e a
Rádio Emissora ABC (ambas
fundadas no ano de 1953).
É certo que a música árabe
começou a ser difundida
primeiramente no Brasil
através das ondas curtas de
rádio. O primeiro programa
árabe radiofônico do Brasil
(programa inaugural), foi ao
ar no dia 9 de agosto de
1956, através das ondas da
emissora Rádio Clube de
Santo André.
Era um programa com duração
aproximada de 1 hora. Nesse
programa inaugural, Fuad
Haidamus, grande amigo do
apresentador Chico Shabou,
se apresentou cantando "ao
vivo" algumas canções
típicas árabes.
Podemos claramente verificar
através da análise de fotos
e documentos históricos, que
Haidamus não foi "apenas"
o pioneiro da Percussão
Árabe no Brasil; foi,
também, o primeiro artista
árabe, acompanhado por seu
seu irmão Jorge Aidamus -
que iniciou seus estudos
musicais desde muito cedo,
com um antiquíssimo
alaudista de origem turca
chamado Alexander Sunatti
- a iniciar em
caráter oficial, ou seja,
através de um veículo de
comunição (Rádio), a
difusão da música árabe
cantada e tocada em
território brasileiro.
Ressaltamos aqui que Fuad
Haidamus não era cantor
profissional; o pioneirismo
do canto árabe no Brasil
deve-se ao eminente
intérprete e regente
Romeu Féres, que lançou
pela gravadora Odeon
os primeiros Lp´s de músicas
árabes destinados à
comunidade árabe no Brasil.
Segundo uma indicação
datilografada no topo da
foto acima, acreditamos que
o nome do programa em que
Fuad Haidamus se apresentou
em 1956 era "Programa 9
de julho" Curiosamente,
a inauguração desse programa
ocorreu, como já
mencionamos, no dia 9 de
agosto ("Inauguração
Programa 9 de julho 9 - 8 -
56").
|
Foto ao lado:
Fuad Haidamus,
Pioneiro na
difusão da
música árabe
cantada em
território
brasileiro.
1956 - Início
histórico da
difusão da
música árabe no
Brasil:
Fuad Haidamus
canta na
inauguração do
primeiro
programa árabe
radiofônico
brasileiro,
comandado pelo
seu amigo
Chico Shabou,
no dia 9 de
agosto do ano de
1956, pelas
ondas da
legendária Rádio
Clube de Santo
André, três anos
após sua
fundação.
Curiosidade:
O primeiro
alaúde de Fuad
Haidamus, fora
um presente
especial de
Romeu Féres ,
que trouxe o
instrumento
diretamente do
Lìbano. |
Haidamus - Clássico da
Percussão árabe no Brasil
(Considerações Finais).
É
indiscutível que a história
do músico percussionista
Fuad Haidamus é parte
primordial da cultura
musical árabe no Brasil. Haidamus
é o clássico e a tradição da
percussão árabe neste país.
Além de pioneiro, fora o
percussionista de maior
visibilidade e
expressividade. Foi o
primeiro músico árabe a
tocar ao lado de orquestras
brasileiras de grande
renome, como as já citadas
orquestras de Silvio Mazzuca
e Osmar Milani. Confeccionou
pioneiramente derbakes e
daff, projetou os melhores
estojos para Derbake e Daff,
difundiu a percussão
libanesa autêntica e
profissional a todos os
recantos do Brasil,
juntamente com seu conjunto
de músicos também pioneiros.
Foi o primeiro
percussionista árabe a se
apresentar em programas de
auditório, telenovelas etc..
Apesar das dificuldades na
época, seu trabalho
benemérito gerou frutos,
incentivando ,de alguma
forma, o aparecimento de
vários outros
percussionistas árabes
contemporâneos no Brasil.
Fuad
Haidamus foi o pioneiro na
implantação teórica da
percussão árabe e, também,
na sua difusão pelo Brasil.
O chamamos de "pai dos
tambores árabes no Brasil"
porque antes dele, a
percussão árabe profissional
neste país era inexistente.
As técnicas profissionais,
os instrumentos de percussão
e os ritmos tradicionais
árabes (e libaneses) eram de
desconhecimento geral.
O objetivo deste tributo não
se estende apenas a
homenagear o grande pioneiro
da percussão árabe no
Brasil, mas, também,
resgatar e tornar público,
de maneira fiel, a
verdadeira e genuína
história do início da música
árabe profissional neste
país, honrando e recobrindo
com os devidos méritos todos
os seus legítimos músicos
pioneiros.
Figura lendária e
maior ícone da percussão
árabe no Brasil, podemos
seguramente acrescentar de
forma particular após toda a
análise feita de seu grande
e rico histórico, que Fuad
Haidamus foi o maior músico
árabe do Brasil, pois nenhum
outro conseguiu fazer tanto
num período de tantas
dificuldades.
Dedicatória em
caracteres
árabes do
Cantor,
Compositor e
Alaudista
Libanês Ali
Murad, feita em
homenagem ao seu
Amigo Fuad
Haidamus. Ali
Murad fora um
dos grandes
talentos da
música árabe
tradicional no
Brasil,
realizando
vários trabalhos
discográficos
nas décadas de
70 e 80 |
Para Vitor Abud Hiar, a
história da música árabe
profissional no Brasil ainda
é pouco conhecida porque não
se cultivou um verdadeiro
respeito pela genuína
tradição musical trazida
pelos verdadeiros pioneiros.
É evidente que a falta de um
registro histórico de maior
seriedade e detalhado, como
já dissemos no início deste
trabalho, muito contribuiu
para o surgimento desse
triste oportunismo.
A propagação do "achismo
desqualificador" também
pode ser considerado outro
grande mal, pois materializar-se plenamente
em uma completa falta de
conhecimento,
responsabilidade e respeito
a nomes que realmente
fizeram história.
Muitos desses músicos, como,
por exemplo, Romeu Féres,
segundo consta nos anais
históricos, tristemente sofreram
discriminação pelo simples
fato de serem de origem
árabe.
Terminamos dizendo que
negar ou ignorar
o pioneirismo e a
importância clássica e
tradicional do grande
percussionista Fuad Haidamus
e dos seus magníficos
trabalhos referentes à
cultura musical árabe no
Brasil, é atentar
diretamente contra a
história viva da cultura
árabe brasileira.
|