A Percussão Árabe no Brasil - Vitor Abud Hiar
 
                 

 

 

 

 
 
 
 

 

A Percussão Árabe no Brasil - por Vitor Abud Hiar

 

Introdução 

Tal trabalho trata-se de um breve complemento e  epílogo ao  histórico "Tributo a Fuad Haidamus - Pioneiro e mestre da percussão árabe no Brasil". Aqui, daremos maior atenção à fase inicial da percussão árabe no Brasil, aplicando maior ênfase aos trabalhos realizados por Fuad Haidamus nesse campo, contando a história de seus instrumentos e objetos por ele confeccionados.

 

 

Início da música árabe percussiva no Brasil.

Fuad Haidamus no palco do restaurante Bier Maza.

 

Não se sabe ao certo a data precisa. Acreditamos que tenha iniciado no final dos anos 60 e início dos anos 70, pois, neste período, Haidamus já iniciara seus trabalhos como músico árabe profissional no Brasil. Podemos afirmar que a música árabe nasceu, no Brasil, nos restaurantes árabes da época.

É curioso observar que desde os tempos dos legendários restaurantes paulistanos "Bier Maza" e "Porta Aberta",  a relação restaurante árabe - música árabe persiste até os dias atuais.

(Essa relação pode ser vista como uma reprodução do que ocorre tradicionalmente entre os povos árabes no mês do Ramadan, que, além de seu significado religioso para os muçulmanos, acabou se transformando num período de verdadeira confraternização entre as famílias árabes. É um período de se reunir com os amigos, comer bem e apreciar uma bela canção).

Sobre um pequeno palco decorado ao estilo "tenda árabe", três ou quatro músicos ( dentre eles Fuad Haidamus na derbake e Wady Cury no alaúde ) se apresentavam ante a uma pequena platéia de espectadores. Assim se deu  ínicio a percussão árabe no Brasil ( ou a musica árabe como um todo ), tendo como instrumentos iniciais o derbakke tradicional, feito em cerâmica queimada e o daff, em madeira e pele de peixe. Os snujs também surgiram nesse período,porém, foram imortalizados pelas mãos de Shahrazad Sharkey, pioneira da bellydance e maior mestra de snujs para dança do ventre no Brasil.

 

 

Os primeiros Derbakkes no Brasil ( Confecção e comercialização )

Derbakes históricos de Fuad Haidamus em cerâmica marajoara

A produção e comercialização dos primeiros derbakes no Brasil ocorreu em torno do ano de 1975, e, mesmo assim, era algo bastante restritivo. Fuad Haidamus foi o maior produtor de derbakkes do Brasil, chegando a fornecer alguns de seus instrumentos para várias lojas paulistanas de instrumentos musicais.

Tudo começou quando Haidamus viajou para Belém do Pará para realização de shows. Nessa oportunidade, ele conheceu a arte ceramista desenvolvida na região e ficou maravilhado com a qualidade da argila utilizada na produção das peças em cerâmica. Notou que a qualidade da cerâmica era muito parecida (ou superior)  àquela desenvolvida e utilizada no antigo Egito.

Assim, os primeiros derbakes no Brasil confeccionados por Fuad Haidamus, eram todos feitos em cerâmica especial de Belém do Pará (cerâmica marajoara) e revestida com pele de cabrito, que era especialmente cortada, furada, costurada e, por final, colada. Possuíam excelente sonoridade e seguiam o modelo tradicional libanês.

Evidentemente, a procura era  baixa e a sua venda ficara adstrita apenas aos membros da colônia árabe e interessados amantes da música árabe. A derbakke era considerada um instrumento exótico, diferente.

Fuad Haidamus, buscando sempre aprimorar a qualidade sonora de seus instrumentos, trabalhou também como um grande pesquisador na busca de melhores peles para a confecção.

Com o surgimento da globalização, principalmente após o advento da internet e o aparecimento de novas lojas árabes no Brasil especializadas em importação, a dificuldade em adquirir um derbakke ou qualquer outro instrumento árabe, ficou bastante abrandada.

 

 

A Afinação dos derbakkes tradicionais.

Suporte para lâmpada de afinação de Fuad Haidamus.

Como as derbakes tradicionais não possuem tarraxas para serem afinadas, ( o couro é colado diretamente no corpo do instrumento ) diferentemente com o que ocorre com a sua versão contemporânea ( ou moderna ), devemos aquecer o couro para que chegue a uma correta afinação. O aquecimento serve para evaporar toda a umidade absorvida pela pele animal, fazendo-a "esticar". Há muito tempo, quando o  fogo era a única fonte de calor conhecida, colocavam os instrumentos próximos a fogueiras ou brasidos para serem afinados. O uso de lâmpadas já é considerado algo bastante moderno de se utilizar para afinação das derbakes tradicionais.

Não sabemos com exatidão quem inventou essa técnica, porém, Fuad Haidamus foi o primeiro a utilizá-la no Brasil, projetando um suporte especial que o possibilitava tocar e aquecer o couro ao mesmo tempo. Outro dado importante da genialidade de Haidamus na confecção desse suporte é que, mesmo estando dentro do instrumento, não havia interferência  na sua sonoridade. O som produzido conseguia circular livremente no interior do instrumento, passando com total facilidade através do suporte de afinação.

As derbakes contemporâneas produzidas em alumínio e pele de nylon, surgiram com o objetivo de sanar certas deficiências de sua versão tradicional no que diz respeito a sua utilização em shows. Trata-se de um modelo preparado para ser utilizado em espetáculos, pois, possui corpo em alumínio ( facilitando o transporte por ser mais resistente que a cerâmica ) e pele sintética ( que mesmo sendo inferior a animal, não sofre influencia de umidade do ar, mantendo-se, assim, sempre afinada )

 

 

O estojo para derbakke de Fuad Haidamus (histórico).

Primeiro estojo para derbake idealizado e produzido por Fuad Haidamus

Em meados de 1969-1970,  Fuad Haidamus e seu conjunto de músicos passaram a viajar para inúmeras cidades do Brasil. Assim, ante as dificuldades no transporte dos instrumentos, Haidamus idealizou e confeccionou um estojo especial  que propiciava segurança e proteção integral ao instrumento.

Sabemos que Haidamus confeccionou dois estojos para Derbakke. O primeiro ( foto ao lado) fora criado em 1970 aproximadamente, e o segundo, que praticamente fora uma réplica do primeiro, em 1977.

Fuad Haidamus utilizou esses estojos quando tocou na lendária tenda árabe "Bier Maza". Acreditamos que seu segundo estojo, - confeccionado em 1977 respectivamente - fora inutilizado após seu afastamento em definitivo das apresentações musicais.

O primeiro e legendário estojo, dado de presente por Fuad Haidamus a Vitor Abud Hiar  em 1979 - 80, como incentivo aos seus estudos de percussão, permanece conservado  em  sua total originalidade e integralidade (vide foto à direita). 

O estojo para Derbakke de Fuad Haidamus é  uma peças históricas de maior relevância, quando falamos em música árabe no Brasil.

 

 

O Daff e os Snujs.

O Daff também fora um dos primeiros instrumento musicais tocados por Fuad Haidamus em um show no Brasil. Haidamus projetou e confeccionou o primeiro Daff no Brasil, para ser utilizado nos shows.  Após tal acontecimento, outros percussionistas começaram a surgir e o acompanhavam musicalmente nos seus solos de percussão.

Em relação aos Snujs, surgiram e foram imortalizados no Brasil pelas mãos de Shahrazad Sharkey, mestra e pioneira da Dança do Ventre no Brasil, que os utilizava freqüentemente em suas apresentações de dança.

 

 

 

 

 

 

 

 
     

 

 

WWW.VITORABUDHIAR.COM - Vitor Abud Hiar: WebDesigner: