Fuad Haidamus, Jorge Aidamus e a Música Árabe Contemporânea no Brasil.
 

Nossa história começa a ser contada a partir do ano de 1980. Após se apresentarem em um dos capítulos da novela o "Astro", da Rede Globo de Televisão - novela que teve grande impacto nacional - Fuad Haidamus e Jorge Aidamus decidiram se separar.  Fuad Haidamus, renomado e tradicional percussionista, continuou se apresentando ao lado de seus antigos amigos e ministrando aulas de percussão a Vitor Abud Hiar ( que fazia desde 1977 -78). Jorge Aidamus, contudo, partiu, decidido a formar um novo conjunto musical tipicamente árabe e profissional.

Nesse período , Aidamus conhece dois outros músicos - Saied (derbakista) e Ahmed (violinista) - e forma ao lado deles seu primeiro conjunto musical longe do irmão, a que se denominou "Conjunto Egito" (vide aqui seu histórico). Curiosamente,  Jorge Aidamus, buscando sempre possiveis novos talentos, dava sempre oportunidade àquelas pessoas que desejassem adentrar no mundo da música, sem distinções.

Foto que mostra o alaudista Jorge Aidamus (irmão de Fuad Haidamus) ao lado de integrantes da Família Mouzayek em início de carreira. Ao centro, percussionista segura derbakke confeccionada por Fuad Haidamus (vide foto comparativa em destaque à esquerda).

Do arquivo particular de Jorge Aidamus cedido ao site Al Tarab, de Lìvia Jacob

Essa prática, evidentemente nada convencional, era condenada por Fuad Haidamus. Vitor Abud Hiar lembra que o corpo do instrumento, em cerâmica lisa e encerada, conforme era produzido por Haidamus na década dos anos 80, exigia conhecimento postural (que, na visão de Haidamus, era o básico do básico), mas muitos desconheciam essa informação e se aventuravam, colocando toalhas, panos etc..para que o instrumento não escorregasse. As pessoas aprendiam durante a apresentação, acertando e/ou errando, e isso não era aceito pela ala de músicos tradicionalistas. Contudo, Jorge Aidamus abrindo mão desse princípio, ao lado de seus orientados, teria "fundado" um outro "conjunto" que, segundo afirmam, recebeu a denominação "Oriente" - por volta do ano de 1986.

Na década de 90, Aidamus realizou importantes trabalhos, e que muito beneficiou a Dança do Ventre no Brasil. Foi destaque em diversos jornais, sendo chamado pela "Tribuna do Ceará" (de 1993) como "um dos mais completos conhecedores de música árabe do Brasil" . Ao seu lado ganhou reconhecimento muitos músicos, principalmente   no festival Cemoara de Cultura Árabe, em 1993.

Nesse período, Fuad Haidamus, já bastante enfermo e com idade avançada, apresentou - se pela última vez em 1995, como convidado de honra, num espetáculo ao lado do Maestro Romeu Feres,  seu amigo particular e pioneiro do canto árabe profissional do Brasil.  

Notemos que a separação radical dos "Irmãos Haidamus" tivera um impacto bastante positivo no desenrolar da história da música árabe, pois abriu novos caminhos e oportunidades.

Com o surgimento da era digital, muita coisa acabou mudando de fato. Teclados musicais de alta capacitação podiam facilmente simular a sonoridade de qualquer instrumento árabe acústico, não precisando, sequer, do próprio instrumentista. Jorge Aidamus, contudo, nunca deixou de se apresentar ao lado de seus antigos alunos, hoje, grandes amigos.

 

 

Curiosidades culturais sobre a história da música árabe no Brasil: Discografia árabe no Brasil e seus músicos expoentes.

Introdução.

1956 - Fuad Haidamus canta na inauguração do Programa de seu Amigo Chico Shabou, pelas ondas da Rádio Clube de Santo André (Primeiro programa árabe radiofônico brasileiro).

 É comum falar-se das grandes dificuldades de, na década dos anos 70, possuir um LP de músicas árabes no Brasil. Alguns poucos históricos relatam a compra de long play's por importação e as fitas cassetes como a única fase antes do disco compacto.

Bem, é evidente que há uma enorme lacuna nesses relatos. Explanar sobre o pioneirismo da musica árabe no Brasil bem como a história de sua discografia, não é uma tarefa tão fácil assim. A perda de muito material fonográfico e o surgimento de alguns anti-históricos, acabaram contribuindo para que a memória musical árabe no Brasil tornasse pouco retratada e, por consequência, dirimida gradativamente. Não é incomum ouvirmos ou lermos milhares de informações inverídicas sobre o tema, que acabaram se disseminando gradativamente pelo ato da reprodução contextual.

Pois bem, o que podemos já afirmar nestas primeiras linhas é que a história da discografia árabe no Brasil está diretamente relacionada com a história dos pioneiros da música árabe neste país.

Pioneiro da percussão e excepcional músico, Fuad Haidamus fora também um grande colecionador de obras discográficas árabes. Em seu inestimável acervo particular, podemos encontrar obras discográficas raríssimas e preciosas, comercializadas no Brasil ainda na década dos anos 30, 40 e 50. Trata-se de um verdadeira cápsula do tempo da música árabe no Brasil.

Sob a luz de sua importante coleção, vamos simplesmente retornar no tempo, resgatando e conhecendo a história dos primeiros discos árabes no Brasil, bem como o nome daqueles que fizeram história e que hoje servem de exemplo para todos nós músicos que, atualmente, seguimos a frente o legado que nos foi historicamente confiado.

Para todos os amantes da música árabe, fica aqui mais esse modesto, porém, importante, trabalho cultural de pesquisa e resgate histórico.

Os discos de 78 Rpm (Odeon, Continental, Baida Records) - Os primeiros discos árabes do Brasil.

De acordo com a história da discografia brasileira, em 1902 respectivamente, Fred Figner fora o primeiro a trazer e produzir os primeiros discos com gravações mecânicas. Posteriormente, por volta do ano de 1927, surgem as primeiras gravações elétricas, juntamente com seus novos fabricandes: Odeon, Victor, Columbia (que posteriomente passou a se chamar Continental), Brunswick e Parlophon.

De acordo com a história da discografia brasileira, em 1902 respectivamente,, Fred Figner fora o primeiro a trazer e produzir os primeiros discos com gravações mecânicas. Posteriormente, por volta do ano de 1927, surgem as primeiras gravações elétricas, juntamente com seus novos fabricandes: Odeon, Victor, Columbia (Que posteriomente passou a se chamar Continental), Brunswick e Parlophon.

Do ponto de vista histórico, os primeiros discos árabes do Brasil  - em 78rpm - começaram a ser produzidos  nos anos 40 e início dos anos 50, pelas chamadas Fábricas Elétricas Odeon e Continental.

Nota importante: Ressaltamos, contudo, que há registros desses discos produzidos pela Odeon já no final dos anos 20, contendo, na sua grande maioria, diálogos, marchas e hinos.

Ressaltamos ainda que os discos desta primeira parte, fizeram parte da época do primeiro programa árabe radiofônico do Brasil, comandado por Chico Shabou, grande amigo de Fuad Haidamus que, conforme citamos em destaque no início deste trabalho, fez a abertura inaugural em 1956.

Acreditamos que grande parte desses discos possa ter sido presentes de Chico Shabou a Haidamus, justamente por serem de extrema raridade, não apenas no Brasil mas também no mundo árabe. Produzidos em 78 rpm, esses discos - que antecederam os LP's árabes - possuíam apenas duas músicas gravadas, ou seja, uma música de cada lado.

Eram discos pesados e bastante frágeis, podendo, assim, se quebrar com muitíssima facilidade. Diferente dos conhecidos Long Plays em vinil, esses discos de 78 rpm eram feitos em cera, o que tornava sua produção significativamente complexa.

Próximo à década dos anos 60, começaram a surgir no Brasil uma infinidade de outras marcas além das então conhecidas Odeon e Continental.

Relembrando as marcas internacionais que passaram a produzir discos árabes em 78 rpm, que temos conhecimento, destacamos a famosa "Baida Records - Beirouth, Cairo, Berlin", que produziu discgraficamente inúmeros trabalhos de artistas árabes internacionais entre os anos de 1930 a 1950, como, por exemplo, do mestre alaudista Prof. Elia Baida. Ressaltamos que a legendária "Baida Records" é uma das marcas pioneiras na produção de discos musicais do mundo artístico árabe.

Uma curiosidade que envolve os discos feitos em 78 rpm, é a de que eles não possuíam data, ou seja, não há como estabelecer com exata precisão o ano em que foram produzidos.

Pela história da discografia evolutiva, os primeiros discos produzidos em 78 rpm possuíam apenas uma canção, ou seja, somente com a sua evolução é que se tornou possível gravar duas músicas em seu corpo.

Com o surgimento e a popularização dos Long-Plays (LP), justamente por serem mais resistentes do que os antecessores discos de 78 rpm, novos trabalhos de artistas internacionais da época começaram a surgir no mercado árabe brasileiro.

Dj. Abbud N. era o único autorizado na produção e distribuição dos discos que continham as marcas: Ariphone, Cairophon, Chawaphon, Baidaphon, Duniaphon, Voice de Lebanon, Sountelphan, Dounya, Uniart, Misrophon, Badrophon e Sonocairo.

A representação da Ariphone no Brasil tinha sede na cidade de São Paulo, mais especificamente na tradicionalíssima Rua 25 de março, considerada o maior centro comercial árabe da América Latina. Foram distribuidos pela Ariphone inúmeros trabalhos internacionais de músicos e cantores árabes da época.

Dentre as inúmeras produções em Lp´s que levaram o logo da Ariphone e que compõem a coleção histórica de Fuad Haidamus, podemos mencionar: "Coleção das mais lindas canções do compositor Farid Al Atrach (Estojo com 5 Lp´s históricos); Coleção das mais lindas canções do compositor Mohamad Abdul Wahab ( Coleção histórica com 5 LP's); Canções interpretadas por Samira Toufic; As Festas de Casamento na Nossa Terra ( Vários Artistas); Alegria da Mocidade - Sabah, Moharam Fuad e Abdul Halim Hafez; Canções do compositor Muhamed Abed El-Whab ( 6 LP's históricos); Clássico Om Kalsoum (Várias Coleções); Nossas canções dançantes (com Mohamad Khairi e Mahamad Abu Salmu); Contos e Melodias Orientais ( Com o violinista Abboud Abdolhal, Elia Baida, Sami Saidaui, Kaled Albunassr, Maha Abdoloahhab e Marie Ataia ), Faiza Ahmad, entre outros.

Foram muitos, como vimos, os títulos que a Ariphone lançou no Brasil, proporcionando, assim, à comunidade árabe brasileira a possibilidade de ter em mãos obras musicais dos mais conhecidos cantores e músicos árabes daquele período, hoje considerados verdadeiros mitos da música árabe clássica. Abaixo, alguns exemplos dessas obras:

Um dos primeiros discos árabes comercializados no Brasil, produzido em cera pela Continental (Antiga Columbia) em 78 rpm  com a canção Al-Mimas.

Disco histórico de 78 rpm com canções árabes produzido pelas Indústrias Elétricas e Musicais Fábrica Odeon.

 

Disco 78 rpm da "Baida Records" ( anos 50), com as canções Khaly Ghazal e Belghadr - Prof Elia Baida.

Histórico Selo da "Baida do Brasil", de Constantino Baida

 

Falaremos, a seguir, dos primeiros discos (LP's) de canções árabes gravados no Brasil, bem como de seus principais músicos e cantores expoentes.

O pioneirismo discográfico da música árabe no Brasil.

O primeiro LP gravado no Brasil, feito especialmente para a colônia árabe Brasileira, fora de autoria do cantor árabe Romeu Féres, produzido por Indústrias Elétricas e Musicais Fábrica Odeon, tendo como título "Jóias Árabes". Posteriormente, devido ao grande sucessos desse primeiro trabalho, Féres lança um segundo LP com o título "Tardes Orientais", contando, inclusive, com a participação da Orquestra e Côro de Luiz Arruda Paes.

Tardes Orientais com Romeu Féres - Segundo LP histórico em homenagem à comunidade árabe do Brasil (anos 50

 

" Foi grande a procura, e enorme o sucesso alcançado pelo magnífico "long play" JÓIAS ÁRABES, interpretado pelo cantor internacional ROMEU FÉRES, que a FÁBRICA ODEON DO BRASIL lançou para satisfazer os gostos orientais, em homenagem a Coletividade Árabe radicada nesta querida e hospitaleira Terra.

Foi o primeiro "long play" do gênero; pois selecionou as mais delicadas canções e melodias orientais, admirado não somente pelos apreciadores da música árabe, como também pelos apreciadores da música internacional, graças à seu ritmo suave e meigo e à sua feliz adaptação artística e musical.

Atendendo à inúmeros pedidos, Fábrica ODEON, tem a mais grata satisfação de confiar, novamente, ao famoso cantor ROMEU FÉRES- seu artista exclusivo - a interpretação do novo e maravilhoso "long play" TARDES ORIENTAIS, cuja letra é de autoria do poeta TANIUS BAAKLINI.

Queremos dispensar as referências à esta nova e segunda realização do mundo artístico oriental. A gravação encontra-se em vossas mãos, e os cometários ficarão ao vosso critério" ( Texto de apresentação da Obra TARDES ORIENTAIS com ROMEU FÉRES, escrito pela ODEON ).

 

Detalhe: Texto orginal da "Fabrica Odeon do Brasil" gravado na capa do LP "Tardes Orientais" de Romeu Féres (anos 50). Segunda Obra histórica do primeiro Cantor Árabe Profissional do Brasil e, também, Pioneiro no lançamento do primeiro LP com típicas canções árabes em homenagem a Comunidade Árabe no Brasil.

Dentre as belíssimas canções interpretadas na obra supracitada, transcreveremos a letra da canção "Dabke", cuja autoria é do eminente Poeta Tanius Baaklini:

Romeu Feres

 

"A alvorada está surgindo!... Os passarinhos estão cantando!... As águas também cantam a cantiga das fontes!... E o Sol está despertando a natureza com seus fios dourados por detrás das montanhas!...

Tudo é alegria!...

Vamos colher os cachos prateados das uvas que se estenderem nos vinhedos!... As ondulações das vegetações, refazem a dança dos aromas... Respiremos o aroma da brisa perfumada!... Vamos ao nosso passeio... ao caminho da felicidade !...

Dancemos o "dabke" dos campos, nestes bosques divinais... nestas terras fascinantes!!!"

(Tanius Baaklini).

 

 

Romeu Féres, grande amigo de Fuad Haidamus, é considerado historicamente o primeiro cantor árabe profissional no Brasil a gravar um LP para comercialização em homenagem a comunidade árabe neste país. Cantor lírico e regente, Féres fora também o cantor árabe da mais bela voz de todos os tempos da história da música árabe no Brasil.

Nota importante: Apesar de Romeu Féres ser considerado o pioneiro do canto árabe profissional no Brasil, seu trabalho histórico teve alguns predecessores, como, por exemplo, Nagib Mubarak, que gravou pela Odeon, a título de registro, dois discos de 78 rpm, com os cantos sírios Yalia e Yama Nuchuf  (gravações realizadas no ano de 1930). Um outro nome é o de Nagib Hankach que, em 1945, gravou pela Continental as canções Haliatura e Abu Zuluf ( todas em discos de 78 rpm). O primeiro LP de musicas árabes do Brasil de Romeu Féres ("Jóias Árabes") fora lançado em 1956, e o segundo ("Tardes Orientais") no ano subsequente, ou seja, em 1957.

Podemos dizer que o célebre audista Wadih Cury teve, ao lado de Fuad Haidamus, o importante papel de semear a música árabe típica e profissionalizada em terrítório brasileiro.

LP histórico duplo de Wadih Cury - Pioneiro na formação do primeiro conjunto musical árabe do Brasil (anos 60 - 70).

Cury, músico puramente tradicionalista, ainda na década dos anos 60, lança pela Continental o seu LP duplo "Canções de Folclore árabe", onde relembra músicas memoráveis como: Al-iadi, Allah-Maik, Abu-zulof e Gina wa Gina.

 Considerado ao lado de Fuad Haidamus o pioneiro da música árabe melódica no Brasil,  fora o músico que, juntamente com Haidamus, acompanhava Shahrazad em suas apresentações no período dos anos 70.

Na Década dos anos 80, o Alaudista e Violinista Nabil Nagi passou a se destacar com grande intensidade tanto no âmbito da comunidade árabe como em todo o Brasil, dando aos seus shows um caráter sempre dinâmico e vibrante.

Algumas bailarinas que hoje conhecemos como Professoras no Brasil, trabalharam com Fuad Haidamus e Nabil Naji, e outras tantas , nessa mesma época, foram descobertas artisticamente.

Viajaram pelo Brasil, acompanhados em muitas oportunidades pelo primeiro grupo de Danças Folclóricas Libanesas deste país, o Cedro do Líbano, que falaremos mais adiante.

Graças a sua jovialidade e dinamismo, Nagi era o típico músico árabe moderno . Nesse período surgem novos percussionistas árabes, todos orientados pelo estilo e técnica de Fuad Haidamus.

"Las Mil e Una Noches en Shark con Nabil Nagi" - LP gravado em Buenos Aires (1980).

De todos os trabalhos de Nabil Nagi, vamos aqui mencionar a gravação pela Cabal, em Buenos Aires, do LP "Las Mil e Una Noches en Shark". Ritmos como o conhecido Maqsoun, Ciftetelli (Taksim Oud) e Malfuf passaram a ganhar destaque especial. Dentre as canções interpretadas por Nagi e seu conjunto nesse trabalho, a título de amostragem, podemos citar: Ia Habaibi Ia Gaibi (Farid al Atrach), Taksin al Laud e Salat el Sen (Chef Zakaría Ahmad). Naji também era um excelente compositor.

Da mesma forma como Nabil Nagi, destacou-se, também, o Alaudista, Cantor e Compositor Sírio Said Azar, importante precursor na difusão da música árabe melódica e cantada no Brasil, que realizou inúmeras gravações de shows ao vivo,Alguns de seus trabalhos foram comercializados no âmbito da Comunidade Árabe Brasileira em fitas cassetes na décadas dos anos 80 e 90.

Mestre no Taksim Oud ( improvisação melódica no alaúde ) Said Azar, também precursor na difusão da música árabe melódica e cantada, como já dissemos, é considerado o maior alaudista árabe do Brasil na atualidade.

Atuou ao lado de muitos nomes importantes da música e dança árabes no Brasil, como, por exemplo, o bailarino Atef Issa, fundador e líder do histórico e legendário grupo de danças folclóricas libanesas Cedro do Líbano, pioneiro na divulgação das tradicionais danças libaneses pelo Brasil, como, por exemplo, o Dabke.

Canções Orientais com Jorge Fahed - 1979

O conjunto de músicos de Willian Bunduki ( formado por Willian Bunduki (alaúde), Fuad Haidamus ( tabla / percussão geral ) e Kico ou Alex Bunduki ( pandeiro / percussão base), realizaram, também, diversas gravações musicais de suas apresentações na tenda árabe Bier Maza, porém, tais trabalhos, em áudio amador ou convencional, não foram postos a comercialização.

Assim, sejam tradicionais ou modernistas, podemos seguramente afirmar que todos os conjuntos árabes que surgiram posteriomente no Brasil copiaram os moldes traçados pela primeira geração de músicos árabes.

Para Vitor Abud Hiar, é certo que os novos conjuntos musicais que atuam no Brasil seguem ou procuram seguir diretamente ou indiretamente o estilo apresentado por Nabil Nagi, isto, claro, logo após a criação do Solo de Tabla por Fuad Haidamus, ainda na década dos anos 70.

Os trabalhos discográficos dos anos 80 .

Canções árabes II - Ali Murad.

Com o início dos anos 80, como já havíamos destacado no histórico Tributo a Fuad Haidamus - Pioneiro e Mestre da Percussão Árabe no Brasil, a música árabe brasileira passou a ganhar mais e mais novos talentos.

Buscamos os nomes daqueles que se destacaram no período a que chamamos de pós-pioneiro, do qual citaremos em destaque especial o cantor Jorge Fahed, com a obra "Canções Orientais".

Recordemos, ainda, do cantor, compositor e alaudista libanes Ali Murad, que lançou pela gravadora Aurofone 2 Lp´s (Canções árabes I e II), com músicas orientais caracteristicamente típicas, todas de sua própria autoria. Também nesse período, lançou ainda pela mesma gravadora (Aurofone do Brasil), alguns compactos simples, versando sobre solos de alaúde e canto de muezim, tipicamente religioso, entoado no alto dos minaretes das mesquitas do mundo islâmico.

Na década dos anos 90, com o surgimento das gravações digitais, novos trabalhos passaram a surgir, agora, sob a forma dos modernos e revolucionários Cd's.

Considerações Finais.

A história da música árabe neste país começa, evidentemente, a partir de sua profissionalização e é uma grande satisfação podermos resgatar as obras discográfias históricas dos pioneiros que, ao lado de Fuad Haidamus - pioneiro na percussão árabe - trabalharam na implantação oficial da cultura músical árabe neste país.

Consideramos este um dos mais importantes trabalhos já realizados neste site. Nesta época em que vivemos, a Memória Histórica, Pioneira e Cultural da musica árabe no Brasil preserva-se ainda mais, nessas magnifícas e majestáticas Obras Discográficas.

 

 

O sistema de afinação dos Derbakes tradicionais.

Eis um dos pontos mais desconhecidos e curiosos da percussão libanesa, e, por que não, da percussão árabe em geral. Na percussão ocidental, conhecemos de forma mais comum a afinação por esticamento, ou seja, o couro é esticado através do auxílio de parafusos embutidos na borda do tambor.

Quase todos os instrumentos ocidentais utilizam esse sistema para serem afinados, como: Bongô, Atabaque, Timba, Rebolo, Tamborim, Surdo, Caixa etc..

Na percussão oriental, mais especificamente na percussão libanesa, até meados dos anos 80, a única forma utilizada para afinar o Derbakke era através do ressecamento da membrana de couro. Contemporaneamente surgem os Derbakkes em pele de nylon, apresentando um sistema ocidentalizado de afinação (afinação por esticamento).

Vamos conhecer mais afundo o sistema de afinação tradicional da percussão árabe, ou seja, o sistema de afinação por ressecamento da membrana através do emprego de calor.

O couro animal, tanto de peixe quanto o de cabra, absorve muita umidade do ambiente. Acreditava-se que na época do inverno, devido ao frio intenso, o couro sempre perdia a sua afinação. Na verdade isso é um grande equívoco.

O inverno é a estação que melhor mantêm os instrumentos feitos em couro afinados, pois, nesse período, o clima é sempre extremamente seco e a absorção de umidade é mínima. Quanto mais grossa for a pele utilizava, mais umidade ela tenderá a absorver. Quando evaporamos a umidade do couro, o tornamos mais rijo. Essa é uma pratica, pelo que certamente parece, milenar.

Primitivamente, quando queriam afinar um derterminado Derbakke, colocavam-no próximo à fogueiras ou brasaspara que o calor fizesse o trabalho de evaporação da umidade do couro. A prática de usar lâmpadas no interior do instrumento para afiná-lo já é algo bastante inovador.

Não temos certeza absoluta quem inventou essa técnica, porém, segundo o pioneiro Fuad Haidamus, que foi o primeiro a usar essa técnica no Brasil, o uso de lâmpadas foi desenvolvido por um antigo grande mestre de percussão libanesa chamado Jamil.  Haidamus havia aprendido com esse seu mestre - que aqui esteve -  e, posteriormente, teria passado a usar a mesma técnica no Brasil. Imediatamente, fora copiado por todos os outros percussionistas que se seguiram.

O suporte que sustentaria a lâmpada no interior do instrumento foi idealizado por Fuad Haidamus. Por orientação do próprio Haidamus, confeccionamos um segundo modelo de suporte que, praticamente, era uma perfeita réplica do usado por Haidamus na década dos anos 70.

É bastante curioso notar que a presença de uma lâmpada no interior do instrumento não afetava sua sonoridade. O som passava facilmente através suporte sem sofrer nenhuma alteração. O suporte é formado por um conjunto de quatro engates de pressão em metal especial que servem para fixar perfeitamente a lâmpada no interior do instrumento. A luz, por sua vez, deve ficar há alguns centímetros de distância da membrana de couro, para evitar qualquer tipo de dano.

Uma vez atingida a afinação, o percussionista precisava ficar atento e sempre recorrer ao calor da lâmpada ante a qualquer percepção de desafinamento. Se fosse em dias chuvosos, era necessário manter a lâmpada acessa quase que o show inteiro.

Uma outra grande inovação referente ao uso dessas lâmpadas, é que o percussionsita podia afinar o instrumento sem ter de parar de tocar. A lâmpada podia ser acionada mesmo estando o instrumento em uso. Havia a possibilidade da lâmpada queimar com os impactos e a pressão sonora interna, mas era algo muito raro de se acontecer.

E com relação ao Daff tradicional, tanto em pele de peixe como em cabrito, há o uso de lâmpadas também ? Acreditávamos que não, contudo, observando os arquivos em vídeo da época, podemos verificar que Fuad Haidamus também desenvolveu um outro suporte - também com o uso de lâmpadas -  para a afinação do Daff.  Atualmente, caso esse instrumento esteja com afinação prejudicada, devemos utilizar um "pad" para aquecimento.

O uso de lâmpadas ainda é uma pratica comum e atual quando falamos em afinação dos Derbakkes tradicionais, porém, com o surgimento de sua versão modernizada ou contemporânea, acabou sendo posta na reserva ( em shows )e não abolida.

Quais seriam os problemas mais comuns enfrentados pelos músicos na afinação com uso de lâmpadas ? Bem, há uma série de fatos prejudiciais sendo que alguns até podem ser superados, vejamos então:

1 - Ressecamento do couro prematuramente: É muito importante que a lâmpada utilizada não seja muito potente. O couro também precisa ser novo e bem cuidado para conseguir manter-se rígido por mais tempo. Couros antigos ou velhos respondem infelizmente muito mal ao emprego de calor. É evidente que o uso constante de lâmpadas para afinação é muito prejudicial ao couro, sendo que para evitar seu ressecamente muito cedo, é imprescindível o uso de creme hidratante comum regularmente.

2 - Aquecimento do corpo do instrumento: Uma lâmpada comum colocada no interior do Derbakke não apenas aquece a membrana de couro, mas, também, a parte superior de seu corpo. Fuad Haidamus utilizada em seus shows lâmpadas direcionais ( lâmpada spot ). A intenção era evitar que o corpo do instrumento aquecesse de forma demasiada. Apesar do uso da lâmpada spot não impedir eficazmente o aquecimento do corpo do instrumento, já ajudava muito tornando-se a melhor opção para se utilizar.

 

 

 

 

 

 

 

 
     

 

 

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