Fuad
Haidamus, Jorge Aidamus e a Música Árabe
Contemporânea no Brasil.
Nossa história começa a ser contada a partir
do ano de 1980. Após se apresentarem em um
dos capítulos da novela o "Astro", da Rede
Globo de Televisão - novela que teve grande
impacto nacional - Fuad Haidamus e Jorge
Aidamus decidiram se separar. Fuad Haidamus,
renomado e tradicional percussionista,
continuou se apresentando ao lado de seus
antigos amigos e ministrando aulas de
percussão a Vitor Abud Hiar ( que fazia
desde 1977 -78). Jorge Aidamus, contudo,
partiu, decidido a formar um novo conjunto
musical tipicamente árabe e profissional.
Nesse período , Aidamus conhece dois outros
músicos - Saied (derbakista) e Ahmed
(violinista) - e forma ao lado deles seu
primeiro conjunto musical longe do irmão, a
que se denominou "Conjunto Egito" (vide
aqui seu histórico).
Curiosamente, Jorge Aidamus, buscando
sempre possiveis novos talentos, dava sempre
oportunidade àquelas pessoas que desejassem
adentrar no mundo da música, sem distinções.
Foto que
mostra o alaudista Jorge Aidamus
(irmão de Fuad Haidamus) ao lado
de integrantes da Família
Mouzayek em início de carreira.
Ao centro, percussionista segura
derbakke confeccionada por Fuad
Haidamus (vide foto comparativa em destaque à esquerda).
Do arquivo particular de
Jorge Aidamus cedido ao site Al
Tarab, de Lìvia Jacob |
Essa prática, evidentemente nada
convencional, era condenada por Fuad
Haidamus. Vitor Abud Hiar lembra que o corpo
do instrumento, em cerâmica lisa e encerada,
conforme era produzido por Haidamus na
década dos anos 80, exigia conhecimento
postural (que, na visão de Haidamus, era o
básico do básico), mas muitos desconheciam
essa informação e se aventuravam, colocando
toalhas, panos etc..para que o instrumento
não escorregasse. As pessoas aprendiam
durante a apresentação, acertando e/ou
errando, e isso não era aceito pela ala de
músicos tradicionalistas. Contudo, Jorge
Aidamus abrindo mão desse princípio, ao lado
de seus orientados, teria "fundado" um outro
"conjunto" que, segundo afirmam, recebeu a
denominação "Oriente" - por volta do
ano de 1986.
Na década de 90, Aidamus realizou
importantes trabalhos, e que muito
beneficiou a Dança do Ventre no Brasil. Foi
destaque em diversos jornais, sendo chamado
pela "Tribuna do Ceará" (de 1993) como "um
dos mais completos conhecedores de música
árabe do Brasil" . Ao seu lado ganhou
reconhecimento muitos músicos,
principalmente no festival Cemoara de
Cultura Árabe, em 1993.
Nesse período, Fuad Haidamus, já bastante
enfermo e com idade avançada, apresentou -
se pela última vez em 1995, como convidado
de honra, num espetáculo ao lado do
Maestro Romeu Feres, seu amigo
particular e pioneiro do canto árabe
profissional do Brasil.
Notemos que a separação radical dos "Irmãos
Haidamus" tivera um impacto bastante
positivo no desenrolar da história da música
árabe, pois abriu novos caminhos e
oportunidades.
Com o surgimento da era digital, muita coisa
acabou mudando de fato. Teclados musicais de
alta capacitação podiam facilmente simular a
sonoridade de qualquer instrumento árabe
acústico, não precisando, sequer, do próprio
instrumentista. Jorge Aidamus, contudo,
nunca deixou de se apresentar ao lado de
seus antigos alunos, hoje, grandes amigos.
Curiosidades culturais sobre a história da
música árabe no Brasil: Discografia árabe no
Brasil e seus músicos expoentes.
Introdução.
1956 - Fuad Haidamus canta na
inauguração do Programa de seu
Amigo Chico Shabou, pelas ondas
da Rádio Clube de Santo André
(Primeiro programa árabe
radiofônico brasileiro). |
É
comum falar-se das grandes dificuldades de,
na década dos anos 70, possuir um LP de
músicas árabes no Brasil. Alguns poucos
históricos relatam a compra de long play's
por importação e as fitas cassetes como a
única fase antes do disco compacto.
Bem, é evidente que há uma enorme lacuna
nesses relatos. Explanar sobre o pioneirismo
da musica árabe no Brasil bem como a
história de sua discografia, não é uma
tarefa tão fácil assim. A perda de muito
material fonográfico e o surgimento de
alguns anti-históricos, acabaram
contribuindo para que a memória musical
árabe no Brasil tornasse pouco retratada e,
por consequência, dirimida gradativamente.
Não é incomum ouvirmos ou lermos milhares de
informações inverídicas sobre o tema, que
acabaram se disseminando gradativamente pelo
ato da reprodução contextual.
Pois bem, o que podemos já afirmar nestas
primeiras linhas é que a história da
discografia árabe no Brasil está diretamente
relacionada com a história dos pioneiros da
música árabe neste país.
Pioneiro da percussão e excepcional músico,
Fuad Haidamus fora também um grande
colecionador de obras discográficas árabes.
Em seu inestimável acervo particular,
podemos encontrar obras discográficas
raríssimas e preciosas, comercializadas no
Brasil ainda na década dos anos 30, 40 e 50.
Trata-se de um verdadeira cápsula do tempo
da música árabe no Brasil.
Sob a luz de sua importante coleção, vamos
simplesmente retornar no tempo, resgatando e
conhecendo a história dos primeiros discos
árabes no Brasil, bem como o nome daqueles
que fizeram história e que hoje servem de
exemplo para todos nós músicos que,
atualmente, seguimos a frente o legado que
nos foi historicamente confiado.
Para todos os amantes da música árabe, fica
aqui mais esse modesto, porém, importante,
trabalho cultural de pesquisa e resgate
histórico.
Os discos de 78 Rpm (Odeon, Continental,
Baida Records) - Os primeiros discos árabes
do Brasil.
De acordo com a história da discografia
brasileira, em 1902 respectivamente, Fred
Figner fora o primeiro a trazer e produzir
os primeiros discos com gravações mecânicas.
Posteriormente, por volta do ano de 1927,
surgem as primeiras gravações elétricas,
juntamente com seus novos fabricandes: Odeon,
Victor, Columbia (que posteriomente passou a
se chamar Continental), Brunswick e
Parlophon.
De acordo com a história da discografia
brasileira, em 1902 respectivamente,, Fred
Figner fora o primeiro a trazer e produzir
os primeiros discos com gravações mecânicas.
Posteriormente, por volta do ano de 1927,
surgem as primeiras gravações elétricas,
juntamente com seus novos fabricandes: Odeon,
Victor, Columbia (Que posteriomente passou a
se chamar Continental), Brunswick e
Parlophon.
Do ponto de vista histórico, os primeiros
discos árabes do Brasil - em 78rpm -
começaram a ser produzidos nos anos 40 e
início dos anos 50, pelas chamadas Fábricas
Elétricas Odeon e Continental.
Nota importante:
Ressaltamos,
contudo, que há registros desses discos
produzidos pela Odeon já no final dos anos
20, contendo, na sua grande maioria,
diálogos, marchas e hinos.
Ressaltamos ainda que os discos desta
primeira parte, fizeram parte da época do
primeiro programa árabe radiofônico do
Brasil, comandado por Chico Shabou,
grande amigo de Fuad Haidamus que, conforme
citamos em destaque no início deste
trabalho, fez a abertura inaugural em 1956.
Acreditamos que grande parte desses discos
possa ter sido presentes de Chico Shabou a
Haidamus, justamente por serem de extrema
raridade, não apenas no Brasil mas também no
mundo árabe. Produzidos em 78 rpm, esses
discos - que antecederam os LP's árabes -
possuíam apenas duas músicas gravadas, ou
seja, uma música de cada lado.
Eram discos
pesados e bastante frágeis, podendo, assim,
se quebrar com muitíssima facilidade.
Diferente dos
conhecidos Long Plays em vinil, esses discos
de 78 rpm eram feitos em cera, o que tornava
sua produção significativamente complexa.
Próximo à década dos anos 60, começaram a
surgir no Brasil uma infinidade de outras
marcas além das então conhecidas Odeon e
Continental.
Relembrando as marcas internacionais que
passaram a produzir discos árabes em 78 rpm,
que temos conhecimento, destacamos a famosa
"Baida Records - Beirouth, Cairo,
Berlin", que produziu discgraficamente
inúmeros trabalhos de artistas árabes
internacionais entre os anos de 1930 a 1950,
como, por exemplo, do mestre alaudista
Prof. Elia Baida. Ressaltamos que a
legendária "Baida Records" é uma das
marcas pioneiras na produção de discos
musicais do mundo artístico árabe.
Uma curiosidade que envolve os discos feitos
em 78 rpm, é a de que eles não possuíam
data, ou seja, não há como estabelecer com
exata precisão o ano em que foram
produzidos.
Pela história da discografia evolutiva, os
primeiros discos produzidos em 78 rpm
possuíam apenas uma canção, ou seja, somente
com a sua evolução é que se tornou possível
gravar duas músicas em seu corpo.
Com
o surgimento e a popularização dos
Long-Plays (LP), justamente por serem mais
resistentes do que
os
antecessores discos de 78 rpm, novos
trabalhos de artistas internacionais da
época começaram a surgir no mercado árabe
brasileiro.
Dj. Abbud N. era o único
autorizado na produção e distribuição dos
discos que continham as marcas:
Ariphone, Cairophon, Chawaphon, Baidaphon,
Duniaphon, Voice de Lebanon, Sountelphan,
Dounya, Uniart, Misrophon, Badrophon e
Sonocairo.
A representação da Ariphone no Brasil tinha
sede na cidade de São Paulo, mais
especificamente na tradicionalíssima Rua 25
de março, considerada o maior centro
comercial árabe da América Latina. Foram
distribuidos pela Ariphone inúmeros
trabalhos internacionais de músicos e
cantores árabes da época.
Dentre as inúmeras produções em Lp´s que
levaram o logo da Ariphone e que compõem a
coleção histórica de Fuad Haidamus, podemos
mencionar:
"Coleção
das mais lindas canções do compositor Farid
Al Atrach
(Estojo com 5
Lp´s históricos); Coleção das mais lindas
canções do compositor Mohamad Abdul Wahab
( Coleção histórica com 5 LP's);
Canções interpretadas por Samira Toufic; As
Festas de Casamento na Nossa Terra (
Vários Artistas); Alegria da Mocidade -
Sabah, Moharam
Fuad e Abdul Halim Hafez; Canções do
compositor Muhamed Abed El-Whab ( 6 LP's
históricos); Clássico Om Kalsoum (Várias
Coleções); Nossas canções dançantes
(com Mohamad Khairi e Mahamad Abu Salmu);
Contos e Melodias Orientais ( Com o
violinista Abboud Abdolhal, Elia Baida, Sami
Saidaui, Kaled Albunassr, Maha Abdoloahhab e
Marie Ataia ), Faiza Ahmad, entre outros.
Foram muitos, como vimos, os títulos que a
Ariphone lançou no Brasil,
proporcionando, assim, à comunidade árabe
brasileira a possibilidade de ter em mãos
obras musicais dos mais conhecidos cantores
e músicos árabes daquele período, hoje
considerados verdadeiros mitos da música
árabe clássica. Abaixo, alguns exemplos
dessas obras:
Um dos primeiros discos árabes
comercializados no Brasil,
produzido em cera pela
Continental (Antiga Columbia) em
78 rpm com a canção Al-Mimas. |
Disco histórico de 78 rpm com
canções árabes produzido pelas
Indústrias Elétricas e Musicais
Fábrica Odeon.
|
Disco 78 rpm da "Baida Records"
( anos 50), com as canções Khaly
Ghazal e Belghadr - Prof Elia
Baida. |
Histórico Selo da "Baida do
Brasil", de Constantino Baida
|
Falaremos, a seguir, dos primeiros discos (LP's)
de canções árabes gravados no Brasil, bem
como de seus principais músicos e cantores
expoentes.
O
pioneirismo discográfico da música árabe no
Brasil.
O primeiro LP gravado no Brasil, feito
especialmente para a colônia árabe
Brasileira, fora de autoria do cantor árabe
Romeu Féres, produzido por
Indústrias Elétricas e Musicais Fábrica
Odeon, tendo como título "Jóias
Árabes". Posteriormente, devido ao
grande sucessos desse primeiro trabalho,
Féres lança um segundo LP com o título
"Tardes Orientais", contando, inclusive, com
a participação da Orquestra e Côro de
Luiz Arruda Paes.
Tardes
Orientais com Romeu Féres -
Segundo LP histórico em
homenagem à comunidade árabe do
Brasil (anos 50 |
"
Foi grande a procura, e enorme o sucesso
alcançado pelo magnífico "long play" JÓIAS
ÁRABES, interpretado pelo cantor
internacional ROMEU FÉRES, que a FÁBRICA
ODEON DO BRASIL lançou para satisfazer os
gostos orientais, em homenagem a
Coletividade Árabe radicada nesta querida e
hospitaleira Terra.
Foi o primeiro "long play" do gênero;
pois selecionou as mais delicadas canções e
melodias orientais, admirado não somente
pelos apreciadores da música árabe, como
também pelos apreciadores da música
internacional, graças à seu ritmo suave e
meigo e à sua feliz adaptação artística e
musical.
Atendendo à inúmeros pedidos, Fábrica
ODEON, tem a mais grata satisfação de
confiar, novamente, ao famoso cantor ROMEU
FÉRES- seu artista exclusivo - a
interpretação do novo e maravilhoso "long
play" TARDES ORIENTAIS, cuja letra é de
autoria do poeta TANIUS BAAKLINI.
Queremos dispensar as referências à esta
nova e segunda realização do mundo artístico
oriental. A gravação encontra-se em vossas
mãos, e os cometários ficarão ao vosso
critério" ( Texto de apresentação da Obra
TARDES ORIENTAIS com ROMEU FÉRES, escrito
pela ODEON ).
Detalhe: Texto orginal da
"Fabrica Odeon do Brasil"
gravado na capa do LP "Tardes
Orientais" de Romeu Féres (anos
50). Segunda Obra histórica do
primeiro Cantor Árabe
Profissional do Brasil e,
também, Pioneiro no lançamento
do primeiro LP com típicas
canções árabes em homenagem a
Comunidade Árabe no Brasil. |
Dentre as belíssimas canções interpretadas
na obra supracitada, transcreveremos a letra
da canção "Dabke", cuja autoria é do
eminente Poeta Tanius Baaklini:
Romeu Feres |
"A
alvorada está surgindo!... Os passarinhos
estão cantando!... As águas também cantam a
cantiga das fontes!... E o Sol está
despertando a natureza com seus fios
dourados por detrás das montanhas!...
Tudo é alegria!...
Vamos colher os cachos prateados das uvas
que se estenderem nos vinhedos!... As
ondulações das vegetações, refazem a dança
dos aromas... Respiremos o aroma da brisa
perfumada!... Vamos ao nosso passeio... ao
caminho da felicidade !...
Dancemos o "dabke" dos campos, nestes
bosques divinais... nestas terras
fascinantes!!!"
(Tanius Baaklini).
Romeu Féres, grande amigo de Fuad
Haidamus, é considerado historicamente
o primeiro cantor árabe profissional no
Brasil a gravar um LP para comercialização
em homenagem a comunidade árabe neste país.
Cantor lírico e regente, Féres
fora também o cantor árabe da mais bela voz
de todos os tempos da história da
música árabe no Brasil.
Nota importante: Apesar de Romeu
Féres ser considerado o pioneiro do canto
árabe profissional no Brasil, seu trabalho
histórico teve alguns predecessores, como,
por exemplo, Nagib Mubarak, que
gravou pela Odeon, a título de registro,
dois discos de 78 rpm, com os cantos sírios
Yalia e Yama Nuchuf (gravações realizadas
no ano de 1930). Um outro nome é o de
Nagib Hankach que, em 1945, gravou pela
Continental as canções Haliatura e Abu Zuluf
( todas em discos de 78 rpm). O primeiro LP
de musicas árabes do Brasil de Romeu Féres
("Jóias Árabes") fora lançado em 1956, e o
segundo ("Tardes Orientais") no ano
subsequente, ou seja, em 1957.
Podemos dizer que o célebre audista Wadih
Cury teve, ao lado de Fuad Haidamus, o
importante papel de semear a música árabe
típica e profissionalizada em terrítório
brasileiro.
LP histórico duplo de Wadih Cury
- Pioneiro na formação do
primeiro conjunto musical árabe
do Brasil (anos 60 - 70). |
Cury, músico puramente tradicionalista,
ainda na década dos anos 60, lança pela
Continental o seu LP duplo "Canções de
Folclore árabe", onde relembra músicas
memoráveis como: Al-iadi, Allah-Maik,
Abu-zulof e Gina wa Gina.
Considerado ao lado de Fuad Haidamus o
pioneiro da música árabe melódica no Brasil,
fora o músico que, juntamente com Haidamus,
acompanhava Shahrazad em suas apresentações
no período dos anos 70.
Na Década dos anos 80, o Alaudista e
Violinista Nabil Nagi passou a se
destacar com grande intensidade tanto no
âmbito da comunidade árabe como em todo o
Brasil, dando aos seus shows um caráter
sempre dinâmico e vibrante.
Algumas bailarinas que hoje conhecemos
como Professoras no Brasil, trabalharam com Fuad Haidamus e Nabil Naji, e outras tantas ,
nessa mesma época, foram descobertas
artisticamente.
Viajaram pelo Brasil, acompanhados em muitas
oportunidades pelo primeiro grupo de Danças
Folclóricas Libanesas deste país, o Cedro do
Líbano, que falaremos mais adiante.
Graças a sua jovialidade e dinamismo, Nagi
era o típico músico árabe moderno . Nesse
período surgem novos percussionistas árabes,
todos orientados pelo estilo e técnica de
Fuad Haidamus.
"Las Mil e Una Noches en Shark
con Nabil Nagi" - LP gravado em
Buenos Aires (1980). |
De todos os trabalhos de Nabil Nagi, vamos
aqui mencionar a gravação pela Cabal,
em Buenos Aires, do LP "Las Mil e Una
Noches en Shark". Ritmos como o
conhecido Maqsoun, Ciftetelli (Taksim Oud)
e Malfuf passaram a ganhar destaque
especial.
Dentre as canções interpretadas por Nagi e
seu conjunto nesse trabalho, a título de
amostragem, podemos citar: Ia Habaibi Ia
Gaibi (Farid al Atrach), Taksin al Laud
e Salat el Sen (Chef Zakaría Ahmad).
Naji também era um excelente compositor.
Da mesma forma como Nabil Nagi, destacou-se,
também, o Alaudista, Cantor e Compositor
Sírio Said Azar, importante precursor
na difusão da música árabe melódica e
cantada no Brasil, que realizou inúmeras
gravações de shows ao vivo,Alguns de seus
trabalhos foram comercializados no âmbito da
Comunidade Árabe Brasileira em fitas
cassetes na décadas dos anos 80 e 90.
Mestre no Taksim Oud ( improvisação
melódica no alaúde ) Said Azar, também
precursor na difusão da música árabe
melódica e cantada, como já dissemos, é
considerado o maior alaudista árabe do
Brasil na atualidade.
Atuou ao lado de muitos nomes importantes da
música e dança árabes no Brasil, como, por
exemplo, o bailarino Atef Issa,
fundador e líder do histórico e legendário
grupo de danças folclóricas libanesas
Cedro do Líbano, pioneiro na divulgação
das tradicionais danças libaneses pelo
Brasil, como, por exemplo, o Dabke.
Canções
Orientais com Jorge Fahed - 1979 |
O conjunto de músicos de Willian Bunduki
( formado por Willian Bunduki (alaúde), Fuad
Haidamus ( tabla / percussão geral ) e Kico
ou Alex Bunduki ( pandeiro / percussão
base), realizaram, também, diversas
gravações musicais de suas apresentações na
tenda árabe Bier Maza, porém, tais
trabalhos, em áudio amador ou convencional,
não foram postos a comercialização.
Assim, sejam tradicionais ou
modernistas, podemos seguramente afirmar que
todos os conjuntos árabes que surgiram
posteriomente no Brasil copiaram os moldes
traçados pela primeira geração de músicos
árabes.
Para Vitor Abud Hiar, é certo que os novos
conjuntos musicais que atuam no Brasil
seguem ou procuram seguir diretamente ou
indiretamente o estilo apresentado por Nabil
Nagi, isto, claro, logo após a criação do
Solo de Tabla por Fuad Haidamus, ainda na
década dos anos 70.
Os trabalhos discográficos dos anos 80 .
Canções árabes II - Ali Murad. |
Com o início dos anos 80, como já havíamos
destacado no histórico
Tributo a Fuad Haidamus - Pioneiro e Mestre
da Percussão Árabe no Brasil,
a música árabe brasileira passou a ganhar
mais e mais novos talentos.
Buscamos os nomes daqueles que se destacaram
no período a que chamamos de pós-pioneiro,
do qual
citaremos em destaque especial o cantor
Jorge Fahed, com a obra "Canções
Orientais".
Recordemos, ainda, do cantor, compositor e
alaudista libanes Ali Murad, que
lançou pela gravadora Aurofone 2 Lp´s
(Canções árabes I e II), com músicas
orientais caracteristicamente típicas, todas
de sua própria autoria. Também nesse
período, lançou ainda pela mesma gravadora (Aurofone
do Brasil), alguns compactos simples,
versando sobre solos de alaúde e canto de
muezim, tipicamente religioso, entoado
no alto dos minaretes das mesquitas do mundo
islâmico.
Na década dos anos 90, com o surgimento das
gravações digitais, novos trabalhos passaram
a surgir, agora, sob a forma dos modernos e
revolucionários Cd's.
Considerações Finais.
A história da música árabe neste país
começa, evidentemente, a partir de sua
profissionalização e é uma grande satisfação
podermos resgatar as obras discográfias
históricas dos pioneiros que, ao lado de
Fuad Haidamus - pioneiro na percussão árabe
- trabalharam na implantação oficial da
cultura músical árabe neste país.
Consideramos este um dos mais importantes
trabalhos já realizados neste site. Nesta
época em que vivemos, a Memória Histórica,
Pioneira e Cultural da musica árabe no
Brasil preserva-se ainda mais, nessas
magnifícas e majestáticas Obras
Discográficas.
O
sistema de afinação dos Derbakes
tradicionais.
Eis um
dos pontos mais desconhecidos e curiosos da
percussão libanesa, e, por que não, da
percussão árabe em geral. Na percussão
ocidental, conhecemos de forma mais comum a
afinação por esticamento, ou seja, o
couro é esticado através do auxílio de
parafusos embutidos na borda do tambor.
Quase todos os instrumentos ocidentais
utilizam esse sistema para serem afinados,
como: Bongô, Atabaque, Timba, Rebolo,
Tamborim, Surdo, Caixa etc..
Na percussão oriental, mais especificamente
na percussão libanesa, até meados dos anos
80, a única forma utilizada para afinar o
Derbakke era através do ressecamento da
membrana de couro. Contemporaneamente
surgem os Derbakkes em pele de nylon,
apresentando um sistema ocidentalizado de
afinação (afinação por esticamento).
Vamos conhecer mais afundo o sistema de
afinação tradicional da percussão árabe, ou
seja, o sistema de afinação por ressecamento
da membrana através do emprego de calor.
O couro animal, tanto de peixe quanto o de
cabra, absorve muita umidade do ambiente.
Acreditava-se que na época do inverno,
devido ao frio intenso, o couro sempre
perdia a sua afinação. Na verdade isso é um
grande equívoco.
O inverno é a estação que melhor mantêm os
instrumentos feitos em couro afinados, pois,
nesse período, o clima é sempre extremamente
seco e a absorção de umidade é mínima.
Quanto mais grossa for a pele utilizava,
mais umidade ela tenderá a absorver. Quando
evaporamos a umidade do couro, o tornamos
mais rijo. Essa é uma pratica, pelo que
certamente parece, milenar.
Primitivamente, quando queriam afinar um
derterminado Derbakke, colocavam-no próximo
à fogueiras ou brasaspara que o calor
fizesse o trabalho de evaporação da umidade
do couro. A prática de usar lâmpadas no
interior do instrumento para afiná-lo já é
algo bastante inovador.
Não temos certeza absoluta quem inventou
essa técnica, porém, segundo o pioneiro Fuad
Haidamus, que foi o primeiro a usar essa
técnica no Brasil, o uso de lâmpadas foi
desenvolvido por um antigo grande mestre de
percussão libanesa chamado Jamil.
Haidamus havia aprendido com esse seu mestre
- que aqui esteve - e, posteriormente,
teria passado a usar a mesma técnica no
Brasil. Imediatamente, fora copiado por
todos os outros percussionistas que se
seguiram.
O suporte que sustentaria a lâmpada no
interior do instrumento foi idealizado por
Fuad Haidamus. Por orientação do próprio
Haidamus, confeccionamos um segundo modelo
de suporte que, praticamente, era uma
perfeita réplica do usado por Haidamus na
década dos anos 70.
É bastante curioso notar que a presença de
uma lâmpada no interior do instrumento não
afetava sua sonoridade. O som passava
facilmente através suporte sem sofrer
nenhuma alteração. O suporte é formado por
um conjunto de quatro engates de pressão em
metal especial que servem para fixar
perfeitamente a lâmpada no interior do
instrumento. A luz, por sua vez, deve ficar
há alguns centímetros de distância da
membrana de couro, para evitar qualquer tipo
de dano.
Uma vez atingida a afinação, o
percussionista precisava ficar atento e
sempre recorrer ao calor da lâmpada ante a
qualquer percepção de desafinamento. Se
fosse em dias chuvosos, era necessário
manter a lâmpada acessa quase que o show
inteiro.
Uma outra grande inovação referente ao uso
dessas lâmpadas, é que o percussionsita
podia afinar o instrumento sem ter de parar
de tocar. A lâmpada podia ser acionada mesmo
estando o instrumento em uso. Havia a
possibilidade da lâmpada queimar com os
impactos e a pressão sonora interna, mas era
algo muito raro de se acontecer.
E com relação ao Daff tradicional, tanto em
pele de peixe como em cabrito, há o uso de
lâmpadas também ? Acreditávamos que não,
contudo, observando os arquivos em vídeo da
época, podemos verificar que Fuad Haidamus
também desenvolveu um outro suporte - também
com o uso de lâmpadas - para a afinação do
Daff. Atualmente, caso esse instrumento
esteja com afinação prejudicada, devemos
utilizar um "pad" para aquecimento.
O uso de lâmpadas ainda é uma pratica
comum e atual quando falamos em afinação dos
Derbakkes tradicionais, porém, com o
surgimento de sua versão modernizada ou
contemporânea, acabou sendo posta na reserva
( em shows )e não abolida.
Quais seriam os problemas mais comuns
enfrentados pelos músicos na afinação com
uso de lâmpadas ? Bem, há uma série de fatos
prejudiciais sendo que alguns até podem ser
superados, vejamos então:
1 - Ressecamento do couro prematuramente:
É muito importante que a lâmpada utilizada
não seja muito potente. O couro também
precisa ser novo e bem cuidado para
conseguir manter-se rígido por mais tempo.
Couros antigos ou velhos respondem
infelizmente muito mal ao emprego de calor.
É evidente que o uso constante de lâmpadas
para afinação é muito prejudicial ao couro,
sendo que para evitar seu ressecamente muito
cedo, é imprescindível o uso de creme
hidratante comum regularmente.
2 - Aquecimento do corpo do instrumento: Uma
lâmpada comum colocada no interior do
Derbakke não apenas aquece a membrana de
couro, mas, também, a parte superior de seu
corpo. Fuad Haidamus utilizada em seus shows
lâmpadas direcionais ( lâmpada spot ).
A intenção era evitar que o corpo do
instrumento aquecesse de forma demasiada.
Apesar do uso da lâmpada spot não impedir
eficazmente o aquecimento do corpo do
instrumento, já ajudava muito tornando-se a
melhor opção para se utilizar.
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